Faça-me o Favor!

Não nos responsabilizamos por mudanças súbidas de humor ou apetite, ofenças pessoais ou sentimentos inibidos que aflorem de quem por descuido venha a ler isso aqui. Queremos que tudo se exploda e não queremos explodir juntos. Não estamos aqui para sermos atacados, somos nos que atacamos. Ficamos em cima do muro mesmo, atirando pedra em quem passar em baixo, independente do lado.

terça-feira, julho 31, 2007

Explorando novas estéticas: o non-sense

Raspou a sobrancelha e cortou as unhas tão curtas, mas tão curtas que parecia um atentado à natureza. Os feios estão sempre certos, são sempre sinceros, e inteligentes: a feiúra é a traição do desejo. Abraçou um suspiro enquanto lembrava-se de ontem. O céu, as notícias, tudo igual. Mas o tédio há de libertar a humanidade do tédio. Basta uma nova banda de rock. Prepare-se: o futuro está chegando, e com ele mais uma promoção imperdível. Joguei meus sonhos fora, agora não valho mais minha rotina.

Raspou o seu telhado com um cortador de grama. Escreveu seu sobrenome no pára-brisas do seu chefe. Jogou no bicho e acabou preso em uma teia imaginária. Perdeu-se. Encontrou um telefone celular e ligou para um número aleatório. Ligou mais de sete vezes e não econtrou o que procurava: soluços. Deitou-se na cama mais próxima e teve que sair correndo quando os ursos chegaram. Não estava perto da felicidade. Mas parecia.

Iria ser trocado por um radinho de pilha. Trocou a televisão por uma arma e tingiu seu futuro de vermelho. A filha mais nova estranhou quando chegou da aula e não conseguiu ver a novela. Iria trocar o herói pela saudade. Desistiu. Retirou a acusação contra o partido do presidente da sua lista de preocupações. Passou a ser o mais saudável do nono andar. As coisas pareciam estar caminhando.

Ia embora. Escreveu um bilhete e esqueceu de mandar pelo correio: espere por mim, mas não agora.

segunda-feira, julho 30, 2007

Mais lindezas da internet

Enquanto o pessoal de TI não resolve a merda que fizeram nos meus acessos, estou tecnicamente impossibilidado de trabalhar (como se isso fosse justificativa para fuçar na net). E tenho achado boas coisas no rede, principalmente nos blogs de quadrinistas, que é uma raçinha bem espertinha.

Essas sairam do blog do Allan Sieber.

1)
"O celular só se justifica se for instrumento em mãos, boca e ouvido de corretor de imóveis ou vendedor de “crack”.

Alguém falando da absoluta inutilidade da praga atual de celulares. Lindo. É tipo aquela conversinha, "se você tem filho, você tem que ter um celular", pelo amor de Deus. Essa veio da coluna dessa semana do mestre Ivan Lessa.

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2)
"Os pais se converteram a essa idéia de felicidade sensorial. Acham que viverão bem com a receita de juvenilidade, boa forma e puerilidade mental.Os próprios filhos se sentem constrangidos. Não digo que o pai deva dar a sua vida pelo filho, só que tem de integrar o filho à sua vida. Ou então não seja pai ou mãe. Se as pessoas não puderem se responsabilizar pelas novas gerações, a gente vai jogar esse mundo na lata de lixo. Se a pessoa não se dispõe a cuidar, então não tenha filhos. Isso acontece porque o pai tem vergonha de ser velho, não quer ser um ancestral. "

Já essa veio de uma excelente entrevista do psicanalista Jurandir Freire Costa, que está lançando seu novo livro, "O vestígio e a aura", onde desce a mão na elite jeca brasileira. Como falei de filhos por conta dos celulares, escolhi essa parte da entrevista referente a um tipo de coisa que sempre me horrorizou: pais moderninhos que vão junto com os filhos em shows, sabem? Fica quela coisa patética, aquele senhor com mais de cinquenta anos na cara, de bermuda e tênis, geralmente com uma mochilinha(!) nas costas, junto com o filho/a adolescente mimado e sem limites. Claro que os dois usam boné e cantam juntos os sucessos do novo lixo pop sensação.

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Esses caras reinteram o ideal faça-me o favor!

sexta-feira, julho 27, 2007

Um pouco de inteligencia insana

Internet sempre tem coisa boa. Tem coisa ruim, mas boa também... assim como tudo na vida, assim como todo lugar.

Achei um blog massa, que merece um tempo dispendido. Fala de coisas, nada em especial, mas fala de coisas.

http://web.mac.com/moleque/iWeb/antipropaganda/CASA.html

Sugestão by malvados, que também tem um blog que indica muita coisa boa.

quarta-feira, julho 25, 2007

Aprendizado

Tenho chegado perto de novos fechamentos de ciclos. Pra quem já se viu nessa situação uma vez que seja, sabe como são esses períodos. Saldos. Reflexões, ainda que extemporâneas.

Mas o ciclo ainda não fechou e ainda há espaço pra se ver algumas coisas. Melhor, pra ver em ação reflexões, frases e idéias que em breve entrarão no saldo do ciclo e serão melhor julgadas pelo empirismo. Infelizmente, na maioria das vezes, o experimento destrói a amostra e invariavelmente, não tem volta.

Tudo isso pra dizer que aprendi que por quem amamos, muitas vezes é melhor abrir mão de ter razão.

E só.

PS: Onde estariam os outros convivas do blog?

Revorta

terça-feira, julho 24, 2007

Mais um dia de trabalho

E eu não pedi demissão. Ainda não sei se isso é bom ou ruim




Jogue

Cultura

Sem nenhuma relação com os assuntos comumente abordados: uma alemã que está passando tempos por aqui a trabalho foi almoçar comigo e uns amigos hoje. Depois de se servir, ela foi temperar a comida jogando azeite no feijão com a mão direita e vinagre na salada com a esquerda.

Poucos povos teriam a crueldade necessária para o Holocausto. Nenhum outro teria a eficiência.

segunda-feira, julho 23, 2007

Que complementa (e ilustra) a idéia anterior

"De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória que o dia, a noite e a madrugada são coisas distintas
Separadas pelo canto de um galo velho.

Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia.
Quem surgiu primeiro?
O antes, o outrora, a noite ou o dia?

Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro.
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho-maria
Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira
E se antes um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira

E da fruta tiro a polpa
E da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...

Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem!!!" (Fernando Anitelli)

domingo, julho 22, 2007

E a vida, e a vida o que é diga lá meu irmão....

Minha sábia mãe sempre me disse que os jovens normalmente se imaginam imortais e que até completem uns 25/30 anos crêem que nada de ruim acontecerá com eles ou com os seus amigos. Seu carro não vai capotar, mesmo que você ande a 160Km/h na Mogi-Dutra. Você não será assaltado, mesmo andando sozinho e bêbado numa rua deserta de São Paulo às 5hs da manhã. Sua saúde é perfeita, mesmo ingerindo toneladas de junkie-food e misturando tequila com cocaína. Não, não comigo. Não, não agora.

Só que um belo dia vem a vida e te dá uma rasteira. E daí você se vê diante da real possibilidade de, como diria um grande amigo, fazer a passagem. Sua vida de fato passa em segundos na sua frente e você tem vontade de mandar pausar o filme e ver como foi exatamente que as coisas aconteceram antes de chegar ali. Então, algo maior, algo que me acostumei e habituei a chamar de Deus (e que o leitor pode chamar do que quiser) pausa o filme e rebobina a fita (a tecnologia dos DVDs ainda não chegou neste setor do Juizo Final), e dá-te uma nova chance. O carro não capota, só derrapa. O assalto acontece mas você sai dele vivo. Anos de má alimentação são traduzidos em um colesterol elevado e o uso de drogas ilícias passa a ser coisa do passado numa boa.

É inevitável, e nesse momento você chora. Um choro igual ao abrir de pulmões quando sorveu o primeiro gole de ar desta vida errante. Depois disso, o bater de cabeças decorrente. As indagações. Os questionamentos. E a certeza que, se você foi de fato merecedor de uma “segunda chance” precisa fazer algo para justificar o fato ou aumenos agradecer. É nessa hora que você pensa nos seus pais, irmãos, melhores amigos, grandes amores e nota, perplexo, não a falta que você faria para eles, mas a falta que a vida faria pra você. O mundo deixa de girar em torno a seu umbigo e fica maior, muito maior.

Isso tudo é pra contar que eu poderia estar naquele avião da TAM. Pra ser ainda mais precisa, eu tinha pego exatamente aquele vôo três dias antes. E não só isso, mas no momento do desastre eu estava embarcada numa aeronave deles com destino a Congonhas. Eu poderia estar naquele vôo!! E deixando o egoismo de lado, a dor também vem do fato de que eu conhecia uma pessoa que estava lá. O nome dela era Lina e ela tinha a minha idade e era uma médica oncologista brilhante. E o que pensar dessa tragédia terrível?? Haveria uma razão pra eu não estar lá?? Haveria uma razão pra Lina estar lá??

O que eu acho é que estamos aqui, nesta vida, apenas de passagem e nada disto aqui é realmente nosso. Nada exceto nossos sonhos e conquistas. Nessa reflexão de vida e morte, há que se deixar de considerar seu umbigo como o centro do universo pra só então ver, claramente, os sonhos e as conquistas dos outros. E então se surpreender com as diferenças e semelhanças. Quando você passa a questionar o ser ou não ser merecedor dessa vida e ganha a consciência de que você pode ir embora (a contragosto) a qualquer momento e por qualquer motivo torpe, então deve aproveitar pra tomar algumas decisões como aproveitar todos os instantes como se fossem de fato os últimos e também fazer apenas coisas boas, coisas que agregem, coisas que ao final sejam positivas, numa dimensão grandiosa.

Gostaria muito de ter uma boa conclusão para esse texto, mas o momento não me permite nada melhor do que um sonoro CARPE DIEM. E pode soar extremamente epicurista, mas volto a dizer que pra mim as boas coisas da vida são e serão sempre aquelas mais simples e, muitas vezes, as mais bobas: fazer xixi quando se está com muita vontade, comer no alge daquela bruta fome ou dormir depois de um belo banho, com o corpo bem cansado. E é só isso que quero fazer agora. É só nisso que quero pensar.

sexta-feira, julho 13, 2007

Review

Josh Homme is a man of many talents, but he's not quite a man of his time. He floats outside of it, sniping and sneering at it, but he's not part of it — he's too in love with rock & roll to belong to a decade that's seeing the music's slow decline. You could say that Shot in the Water keep rock's flame burning, but unlike other new-millennium true believers — like Jack White, for instance — Homme lacks pop skills or even the interest in crossing over (which isn't the same thing as lacking hooks, mind you), and unlike the stoner metal underground that provided his training ground, he's not insular; he thrives on grand visions and grander sound. He's an anomaly, a keeper of the flame that will never be played on Little Steven's Rock & Roll Underground because Shot in the Water are too heavy, too muso, too tasteless in all the wrong ways to be commonly accepted or embraced as among the next generation of rock heroes — which only makes them more rock & roll, of course. And if rock & roll is indeed in decline in the 2000s, Homme and his Shot in the Water prove that rock & roll can nevertheless be just as potent as it ever was with each of their remarkable albums. All are instantly identifiable as Shot in the Water but all are quite different from each other, from the sleazoid freak-out of R to the dark, gothic undertow of Lullabies to Paralyze, a record so willfully murky that it alienated a good portion of an audience ready to bolt in the wake of the departure of Homme's longtime partner, Nick Oliveri. Its 2007 successor, Era Vulgaris, is as different from Lullabies as that was to their dramatic widescreen breakthrough, Songs for the Deaf: it's mercilessly tight and precise, relentless in its momentum and cheerful in its maliciousness. Like other Shot in the Water albums, guest musicians are paraded in and out, but here it's impossible to tell if Mark Lanegan contributed anything or if that indeed is the Strokes' Julian Casablancas singing lead on the lethal "Sick, Sick, Sick," because Homme has honed Era Vulgaris so scrupulously that it's impossible to hear anybody else's imprint on the overall sound. Shot in the Water retain some of the spookiness of Lullabies — there's a ghostly hue on "Into the Hollow" — but this is as balls-out rock as Songs for the Deaf, only minus the mythic momentum Dave Grohl lent that record. But Era Vulgaris isn't designed as a monolith like Songs; its appeal is in its lean precision, how the riffs grind as if they were stripping screws of their threads, how the rhythms relentlessly pulse, and, of course, how it's all dressed up in all kinds of scalding guitars, all different sounds and tones, giving this menace and muscle. If the songs aren't pop crossovers — not even the soulful seductive groove of "Make It Wit Chu" (revived from one of Homme's Desert Sessions) qualifies it as a potential pop hit — they still have hard hooks that make these manifestos even if they aren't anthems: "Misfit Love" digs in like a nasty Urge Overkill, "Battery Acid" is metallic and mean, blind-sided only by the gargantuan, gnarly "3's & 7's." It's hard to call Era Vulgaris stripped-down — there's too much color in the guitar, too much willful weirdness to be that — but this is Shot in the Water at their most elemental and efficient, never spending longer than necessary at each song, yet managing to make each of these three-minute blasts of fury sound like epics. It's exhilarating, the best rock & roll record yet released in 2007 — and the year sure needed the dose of thunder that this album provides.

Fonte: http://www.allmusic.com/cg/amg.dll?p=amg&sql=10:jvfyxz85ldse

quinta-feira, julho 12, 2007

QUANDO, como, onde e PORQUE se vive...

Muitos textos poderiam ter sido inseridos com esse video, meus caros... uma crítica sobre o pedido da cerveja, algo nobre na declaração de que "Some people live a lifetime in a minute", qualquer coisa a cerca da afirmação "No mistakes in the tango, not like life" ou uma bela metáfora sobre deixar-se conduzir numa pista de dança por um cego. Até mesmo um comentário simples da elegância da música cairia bem, assim como uma sinopse forte do filme. Mas deixo em aberto... para que cada um de vocês tire suas lições e morais, da forma que melhor lhes convier.

domingo, julho 08, 2007

Creio que todos vocês assistitam Kill Bill. Pois devem então se lembrar do Volume 2, nos momentos finais da protagonista com o peronagem título, quando este faz um discurso sobre o porque do herói favorito dele ser o Super-Homem.

A idéia que vem por trás do discurso é que todo herói possui uma identidade secreta: Batman é Bruce Wayne (um cara podre de rico, mimado e órfão), o Homem-Aranha é Peter Parker (o nerd bobão apaixonado pela vizinha) mas no caso do Super-Homem, é diferente... pois Clark Kent não é apenas uma identidade secreta. Isto porque o Batman ou o Homem-Aranha, quando acordam cedo pela manhã são, de fato, Bruce Wayne ou Peter Parker, mas o Super-Homem é o Super-Homem... Clark Kent é o disfarce dele para que o mundo não saiba de seus poderes.

O que eu também descobri (Deus salve o Google!) é que o diálogo redigido por Quentin Tarantino foi 99% inspirado por uma tese escrita por um tal Jules Feiffer em seu livro "The Great Comic Book Heroes", publicado em 1965. A bela sacada de Feiffer é exatamente esta: não era Clark Kent quem usava o uniforme de Super-Homem, e sim o super-herói quem se fantasiava sob os trajes de um jornalista tímido e medroso. Ou seja, o fato aqui é que, para o autor, Kent existia não para os propósitos da história, mas para o leitor. Ele é, então, a opinião do Super-Homem de todos nós. Uma suposta visão crítica que o herói teria sobre a raça humana (se bem que eu duvido sinceramente que esse baluarte da América fosse capaz de ter um olhar tão cínico a nosso respeito, por mais verdadeiro que possa ser).

Ora ora ora.... e se isso não faz a gente pensar, o que faria? Afinal, quem é você quando você acorda pela manhã: Super-Homem ou Clark Kent? Quem é você com sua família? Quem é você para os seus amigos? Quem vai ao trabalho? Quem pega o ônibus, a carona, o metrô, o carro importado? Quem é você pro amor da sua vida? Quem é você tomando banho? Que disfarces que você inventa, e quantos deles, todos os dias, pra no fundo, unicamente, proteger a sua identidade secreta?

Custa-me crer que eu seja a única maluca a pensar nisso... e eu sei que não sou! No fim das contas, a conclusão que tenho é que, sempre, no matter what, a pessoa capaz de diferenciar o herói do humano é a própria pessoa. E que criamos nossos personagens, vestimos nossos uniformes e saímos por aí, enganando os outros, nos enganando, trocando de máscaras, com as cuecas por cima das calças. E que loucura! Quanta insanidade!

Mas confesso: não sou capaz de ser eu mesma o tempo todo, nem para todos. E mais... tem dias que escoro a cabeça no travesseiro e repito pra mim mesma, antes de adormecer, os feitos brilhantes da heroína que habita dentro de mim. Tento me convencer de como ela é forte e poderosa e de como salvou o mundo nas últimas horas. Quase sempre isso funciona. Exceto quando acordo de um sonho ruim e sinto medo. Talvez seja medo de que descubram as minhas vidas paralelas em mundos ilusórios, talvez uma vontade gigantesca de que alguém encontre minha identidade secreta.

Afinal, a identidade secreta (se é que ela existe mesmo) não é uma visão muito bonita: ela tem cabelos rebeldes, assoa o nariz fazendo barulho, chora em filme infantil, muda de humor com o passar das horas, come pipoca doce (daquelas vermelhas) lambendo o dedo no final, usa conjunto de moletom cinza e meia branca de algodão meio suja por baixo, lê só os quadrinhos no jornal, faz corpo mole no trabalho e ri de canto de boca. Ela é uma mulher assustada e carente, que sonha com um casamento perfeito, um casal de filhos e um gato chamado Amônio. Ela escreve poemas, escuta baladas velhas e roe as unhas. Às vezes ela escreve estes textos, às vezes ela apena os revisa, edita, censura. E fica sondando, zombando, girando, questionando. Mas sempre com um aviso luminoso em neon piscante: esconderijo secreto, aqui!

E será que tenho mesmo certeza absoluta de que esta seja a identidade secreta e não a heroína? Será que isso tudo é verdade ou eu estou apenas compondo um personagem pra esse texto? Quem conhece Janis? Sob que aspectos? Sob que ângulos? Quem passa e engoma o uniforme cor-de-rosa todos os dias? E quem o usa?

sexta-feira, julho 06, 2007

Queens of the Stone Age - Misfit Love

Bom já que Armless deu sua dica eu dou a minha. E como quem sabe faz ao vivo ai vai!

quinta-feira, julho 05, 2007

Um toque

Hoje me caiu um disco na mão que eu ouvi com inigualável deleite por me remeter a uma das ocasiões mais marcantes da minha curta existência.
Nunca fui um músico de verdade. Jamais passei de curioso. Como comecei aprender a tocar muito criança, isso ajudou a motricidade e a memória. Mas não muito mais do que isso.
Fato é que eu sempre tentei tocar as coisas e nunca ia muito longe. Óbvio. E eu comecei a tocar música caipira. Tião Carreiro mesmo. Aprendi a tocar e cantar com meu avô. Mas apesar dos meus avanços, razoáveis pra um garoto de oito anos, meu avô sempre insistia que eu deveria me empertigar mais nos estudos e tocar violão clássico. Coisa pesada mesmo. Estudar pra valer. Tocar “por música” e não “de ouvido”, ler partitura e tudo o mais.
Mas minha família não tinha recursos para tanto e eu jamais pude estudar. Mesmo assim, o velho insistia.
Bem, e chegou a adolescência e claro, como os convivas me conhecem, veio o rock'n'roll, guitarras, gritaria e letras em inglês. Apesar do desgosto, o velhinho nunca me desestimulou. Ao contrário, ele dizia que eu não deveria jamais deixar de treinar. Mas ele advertia, “Toca o violão. Essa guitarra aí só funciona com banda e nem sempre tem gente pra tocar que te acompanhe, ou que faça de acôrdo, direitinho... estuda o violão e só mexe com guitarra quando os amigo aparecê”. Não fazia isso sempre, mas sempre tinha isso comigo na cabeça. Mas um dia, ele tomou uma providência.
O velhinho tinha uma barraca de caldo de cana na feira. Eu trabalhei muito com ele, mas acabei ganhando minha guitarra numa aposta com meu pai. Isso é outra história, mas ela me fez passar muito tempo pendurado na velha vitrola fazendo cada trechinho da música voltar pra eu conseguir pegar. E peguei.
O velho sacou que ali era a chave. Saiu pra comprar umas peças pro engenho e demorou mais que de costume.
Ele chegou em casa com um LP com uma capa amarela com um violão e uma rosa. Dilermando Reis, o músico. Abismo de Rosas, o disco. E esse foi o meu sentimento naquele momento, de um completo abismo entre o que eu fazia e o que achava o máximo e o que realmente era algo muito, mas muito acima das minhas expectativas quanto às possibilidades do instrumento.
Ele não deixou a peteca cair e mandou, “Toca isso aí. Não vou fazer aposta nenhuma por que você e nem eu precisamos disso. Eu não posso mais te ensinar nada. Você já toca mais do que eu. E se você quer ficar bom na viola, toca com quem toca mais que você. Um dia você vai ver que isso vale pra tudo na vida. Por enquanto, faz uma dessas aí que eu já vou ficar muito contente.”
Precisei de quase dez anos pra conseguir tocar umas três ou quatro músicas decentemente. Mas jamais desisti de tocar. Fiz o melhor que conseguia e me frustrava demais por não conseguir uma interpretação mais profunda das músicas. Não fazia diferença pro velho. Pra ele, ele tinha conseguido o que queria quando ouviu a faixa título do disco tocada por mim. E é uma das maiores alegrias que eu tenho na minha vida, pelo meu avô e por não me sentir mais um músico ridículo, só comum.
Faz algum tempo que eu não toco mais violão. Hoje sou baixista. Muito melhor baixista do que guitarrista segundo bons violeiros com quem toquei ultimamente. Mas seu eu virei alguma coisa, é por causa desse conselho do meu velhinho: se você quer ser bom em alguma coisa, toca com quem toca mais que você!
Ah, ia esquecendo... o disco. Pega no link...
http://www.badongo.com/file/3658705

quarta-feira, julho 04, 2007

Armless na Terrinha - O Saldo da Coisa, em duas partes.

Soltando Burro na Horta de Couve

Salvador não é um lugar pra se apreciar demais a vista. Apreciar a vista desvia o olhar do movimento e há altíssimo risco de te baterem a carteira, o relógio, o óculos, os dedos...

Mas ninguém falou isso pros congressistas. Deveriam suspeitar. Mas não suspeitaram. Acharam que estavam na Bélgica.

Saldo do congresso, até onde soubemos, 50 assaltos, furtos, roubos e assemelhados com ou sem violência. Um dos casos mais notáveis foi o de um nativo que pra “convencer” a vítima a lhe dar a carteira, mordeu seu braço até verter sangue!!!

Aquela molecada andando na rua, principalmente os mais abastados, que nunca tiveram contato com a realidade, sofreram. Foi terreno fértil pra bandidagem oportunista local. Todo mundo carregando pastinha de congresso, óculos escuro e brancos como cêra. Cá pra nós, eu ria dos que via e dos que ficava sabendo. Por que é merecido, não?

Desarranjos

No outro lado do saldo, há as diarréias, nunca reveladas em números oficiais, das quais a mais insuspeita se deu de forma inusitada.

Findo o congresso e a organização do mesmo reuniu ilustres membros participantes e gente que trabalhou lá, do alto e do baixo clero. Tudo por conta do Estado, claro, e foram num dos melhores restaurantes da orla. O resultado foram nada menos do que sessenta, sim, 60 caganeiras diferentes!!! Cada um comeu seu prato predileto. Não foi um bufê. Foi a la carte. E todos se cagaram.

A Providência mandou ao menos esse castigo. De novo, merecido...

terça-feira, julho 03, 2007

Armless na Terrinha - Atos Impensados II

Fomos passar uma tarde em Itapoã. Famosa Itapoã. A vista realmente é linda. E só.

Entre quiosques encardidos e três quase-assaltos na praia, fomos indo a pé até o farol. Não fosse nosso hábito de andar pelos mocós da Zona Leste de São Paulo e teríamos voltado de lá sem a cueca!!!

Não fizemos de rogado e mantivemos nosso objetivo que era, como na música, passar a maldita tarde em Itapoã.

Num dado momento, já depois de uma água de côco e algumas latas de cerveja na orelha, eis que nos deparamos com uma estátua em cima de uma pedra. Armless mandou de primeira... “que diabo faz uma estátua mal-acabada dessas estragando a paisagem?”, ao que o colega emenda “Sei lá... se o pessoal daqui tivesse bom gosto, ninguém chamaria o outro de ´baiano´ !!!”. Chegando mais perto, vimos que aquela figura horrorosa era uma mulher (ou algo que o valha), de azul, e um monte de cuia de barro com trabalhos de macumba no pé dela. Toda suja...

Como não estava conformado com a feiura da figura, fui até lá tirar um foto pra perguntar pra algum entendido se aquilo tinha razão de ser... tanto mau-gosto. Saquei a máquina e o amigo emendou, “Vai lá do lado dela...” e lá fui. Não deu tempo de terminar, e uma horda de nativos que jogava capoeira ali do lado veio se dirigindo pro nosso lado. Dessa vez, eu notei antes.

Desci da pedra num pulo e saímos correndo. Mas é difícil correr naquela areia. Íamos muito lentos. E os nativos pareciam flutuar... que desespero!!! Chegamos na calçada e saltamos dentro do primeiro ônibus que vimos. Um nativo chegou a me pegar pelo pé, mas só levou o chinelo.

Ainda com o coração na goela, o cobrador do ônibus perguntou o que a gente tinha feito, por que o pessoal lá é tão agradável... com cara de susto ainda perguntamos que estátua era aquela. Ele soltou, “Iemanjá, oras. Nossa protetora, madrinha e quem olha por nós!!!” e fez aqueles sinais, beijou um santinho e uma flor...

Sentamos e fomos calados até o hotel. Estava explicado: fazer chifrinho na hora da foto não caiu bem. Não caiu bem mesmo!!!

segunda-feira, julho 02, 2007

Descontrole



Janis que me desculpe, mas o que estou passando merece um relato. Provavelmente seja causado pela feiura geral e incontestável da mexicana média, mas as mulheres venezuelanas (cujo país estou enquanto escrevo estas porcas linhas embebidas em testosterona) estao me tirando do sério, e realmente falo sério! Caralho, como tem mulher gostosa aqui! O país é famoso, nao só pelo Huguinho, mas também pela formosura feminina. O incrível é que esta é a minha terceira visita, mas desta vez elas me pegaram pelas bolas :-(obvia, triste e infelizmente isto é somente uma figura de linguagem). Estao em todos os lados, desfilando seus corpos fartos, algumas também seus tracos latino/caribenhos que tanto diferem das brasileiras e mexicanas (incrível como já percebo claramente as diferencas, sabe quando voce já distingue japones de chines/coreano?), e tudo isso está me fazendo sofrer em tentacao, juro que estou inclusive já as considerando mais bonitas do que as brasileiras (!), mas posso estar errado, talvez já tenha esquecido de como as compatriotas sao, nao sei, já nao sei mais nada, me brutalizei em animal sedento. Jesus Cristo, preciso de uma namorada.....

Armless na Terrinha - Notas Gastronômicas

Não existe comida baiana em Salvador. Essa é minha conclusão. Tem uma porrada de restaurantes com o mesmo cardápio e o mesmo preço extorsivo. Obviamente, apelando para o estereótipo da moqueca e frutos-do-mar, a comida nordestina mesmo não passa nem perto dali. Pois só consegui encontrar um lugar que tinha carne de bode depois de muito conversar com um taxista e conseguir fazê-lo entender que eu queria “comida caipira”. Acabou que não deu jeito de ir no lugar, mas foi a única menção a carne de bode feita na semana toda.
Bom, o que comer então? Comida chinesa, árabe, japonesa, fast-foods de todo jeito e pra todo gosto e bolso. Mesmo por que, depois das duas da tarde não existe lugar pra comer naquela terra... e eu não sou de desistir de arranjar o que comer. Sou de bater perna...
E andei, andei, andei. E morri no mac. Tive que me submeter ao mac... realmente, tive que engolir esse acinte.
Não me dei por vencido e tentei. Inútil. Tirando o almoço no mercado e um acarajé num dos trezentos “melhor acarajé de Salvador”... (tem um em cada esquina, e só começam a funcionar depois das quatro da tarde), nada digno de nota em termos gastronômicos por lá. Fui advertido parcialmente. Mas me decepcionei.
Na última hora, pra vir pra casa, queria comprar algum doce da terrinha, uma carne de sol, qualquer coisa pra dular minha sogra. Entrei em CINCO supermercados e só no último encontrei um doce de genipapo (muito bom por sinal) e um miserável quilinho de carne-de-sol!!! E ainda por que o sujeito me fez o favor de ir buscar lá no frigorífico do mercado (o que levou umas duas horas...).
Você vai dizer que procurei no lugar errado. Bem, pode ser. Mas não deixei de perguntar para os nativos, nos bares, no hotel, para taxistas... e todos diziam a mesma coisa: é difícil encontrar essas coisas em Salvador.
Que puxa...