Faça-me o Favor!

Não nos responsabilizamos por mudanças súbidas de humor ou apetite, ofenças pessoais ou sentimentos inibidos que aflorem de quem por descuido venha a ler isso aqui. Queremos que tudo se exploda e não queremos explodir juntos. Não estamos aqui para sermos atacados, somos nos que atacamos. Ficamos em cima do muro mesmo, atirando pedra em quem passar em baixo, independente do lado.

domingo, julho 22, 2007

E a vida, e a vida o que é diga lá meu irmão....

Minha sábia mãe sempre me disse que os jovens normalmente se imaginam imortais e que até completem uns 25/30 anos crêem que nada de ruim acontecerá com eles ou com os seus amigos. Seu carro não vai capotar, mesmo que você ande a 160Km/h na Mogi-Dutra. Você não será assaltado, mesmo andando sozinho e bêbado numa rua deserta de São Paulo às 5hs da manhã. Sua saúde é perfeita, mesmo ingerindo toneladas de junkie-food e misturando tequila com cocaína. Não, não comigo. Não, não agora.

Só que um belo dia vem a vida e te dá uma rasteira. E daí você se vê diante da real possibilidade de, como diria um grande amigo, fazer a passagem. Sua vida de fato passa em segundos na sua frente e você tem vontade de mandar pausar o filme e ver como foi exatamente que as coisas aconteceram antes de chegar ali. Então, algo maior, algo que me acostumei e habituei a chamar de Deus (e que o leitor pode chamar do que quiser) pausa o filme e rebobina a fita (a tecnologia dos DVDs ainda não chegou neste setor do Juizo Final), e dá-te uma nova chance. O carro não capota, só derrapa. O assalto acontece mas você sai dele vivo. Anos de má alimentação são traduzidos em um colesterol elevado e o uso de drogas ilícias passa a ser coisa do passado numa boa.

É inevitável, e nesse momento você chora. Um choro igual ao abrir de pulmões quando sorveu o primeiro gole de ar desta vida errante. Depois disso, o bater de cabeças decorrente. As indagações. Os questionamentos. E a certeza que, se você foi de fato merecedor de uma “segunda chance” precisa fazer algo para justificar o fato ou aumenos agradecer. É nessa hora que você pensa nos seus pais, irmãos, melhores amigos, grandes amores e nota, perplexo, não a falta que você faria para eles, mas a falta que a vida faria pra você. O mundo deixa de girar em torno a seu umbigo e fica maior, muito maior.

Isso tudo é pra contar que eu poderia estar naquele avião da TAM. Pra ser ainda mais precisa, eu tinha pego exatamente aquele vôo três dias antes. E não só isso, mas no momento do desastre eu estava embarcada numa aeronave deles com destino a Congonhas. Eu poderia estar naquele vôo!! E deixando o egoismo de lado, a dor também vem do fato de que eu conhecia uma pessoa que estava lá. O nome dela era Lina e ela tinha a minha idade e era uma médica oncologista brilhante. E o que pensar dessa tragédia terrível?? Haveria uma razão pra eu não estar lá?? Haveria uma razão pra Lina estar lá??

O que eu acho é que estamos aqui, nesta vida, apenas de passagem e nada disto aqui é realmente nosso. Nada exceto nossos sonhos e conquistas. Nessa reflexão de vida e morte, há que se deixar de considerar seu umbigo como o centro do universo pra só então ver, claramente, os sonhos e as conquistas dos outros. E então se surpreender com as diferenças e semelhanças. Quando você passa a questionar o ser ou não ser merecedor dessa vida e ganha a consciência de que você pode ir embora (a contragosto) a qualquer momento e por qualquer motivo torpe, então deve aproveitar pra tomar algumas decisões como aproveitar todos os instantes como se fossem de fato os últimos e também fazer apenas coisas boas, coisas que agregem, coisas que ao final sejam positivas, numa dimensão grandiosa.

Gostaria muito de ter uma boa conclusão para esse texto, mas o momento não me permite nada melhor do que um sonoro CARPE DIEM. E pode soar extremamente epicurista, mas volto a dizer que pra mim as boas coisas da vida são e serão sempre aquelas mais simples e, muitas vezes, as mais bobas: fazer xixi quando se está com muita vontade, comer no alge daquela bruta fome ou dormir depois de um belo banho, com o corpo bem cansado. E é só isso que quero fazer agora. É só nisso que quero pensar.

5 Comentários:

  • Às 11:45 AM , Blogger Burocrata disse...

    Primeiro: belo texto. Segundo: caralho! Vc quase pegou o aviao!! Terceiro: acho que agora vc esta entendendo um pouco da filosofia que eu e a PV estamos mais alinhados hoje, o tal do carpe diem, eu tive esse clic quando fui ao médico e ele me disse que minha condicao fisica estava muito ruim pra minha idade, culpa da tequila com coca, entao caiu a ficha que eu nao era eterno, que o sedentarismo uma hora mostra suas consequencias e que eu estou ficando velho, dai parei e olhei pra trás e vi como perdi tempo com minhas encanacoes, com devaneios inúteis e que como aqueloas pessoas "futeis" aproveitavam muito mais a vida do que eu, dai disse pronto, chega, minha vida é essa aqui mesmo quer eu goste ou nao e seu eu nao aproveitá-la da melhor maneira AGORA, nao vou ter outra chance depois. Bem vinda ao grupo!

     
  • Às 11:47 AM , Anonymous Anônimo disse...

    Interessante poder estar lá de outra forma... eu passava pelo local do acidente de terça à sexta, naquele horário, por dois anos. O ônibus sempre estava preso no engarrafamento por que ali do lado tem um ponto. Ainda assim, naquele mesmo dia, estava indo à praia e passei por ali mais ou menos meia hora antes.
    Cheguei a pensar num post, mas como eu enchi a lata na sexta-feira e sábado passei o dia resmungando que não podia mais beber daquele jeito, lembrei que esse papo do "passar perto" raramente te faz agir. Faz, no máximo, pensar. O que te faz agir é quando acontece de verdade. E tomara que tenha conserto.
    Depois de um fatídico episódio que me fez passar uma noite fazendo exames e tomografias num hospital, com a cara arrebentada, acordei em casa, meio que torcendo pra que aquilo não tivesse acontecido, mas já me deprimindo, pensando em como as coisas tinham chegado àquele ponto. Felizmente, não houve mais consequências.
    Me coloquei a pensar se tivesse matado o cara, se tivesse batido o carro e ficado paraplégico, se tivesse engravidado uma namorada... enfim, coisas realmente graves e que não têm volta. E depois disso ainda precisei de mais meia dúzia de cagadas, com conseqüências mais ou menos graves pra endireitar.
    Perdi um amigo essa semana. Nunca encheu a cara. Nunca usou droga. Nunca correu na Imigrantes. Pessoa reta como uma flecha. Uma meningite relâmpago matou o cara.
    Penso no meu avô: fazer cagada pode apressar as coisas. Não fazer cagada pode fazer achar que não viveu. Na dúvida, esquece disso por que só peru morre na véspera, só pra ficar no chavão.

     
  • Às 11:50 AM , Anonymous Anônimo disse...

    PS: Mesmo assim, nunca deixei de fazer as coisas e ir viver, com ou sem cagadas.

     
  • Às 3:10 PM , Blogger Puta Véia disse...

    A tempos que vivo minha vida com medo da morte... acho que desde os 5 anos de idade. Primeiro a morte das pessoas que eu gostava, depois, com mais idade e kilos adicionais de egoismo, temo pela minha.
    Mas não na tradicional paranóia paulistana, regada a vidros-fumes fechados nos cruzamentos ou portas trancadas com medo de sequestro, mas temo perder aquilo que mais tenho e não ter aproveitado. Meu medo é simplesmente de não ter vivido.
    No carnaval ultimo carnaval, viajando para bombinhas de busão entrei em pânico. Um ataque de pânico sem presedentes, e achei que fosse morrer. Não tinha choro nem vela, simplesmente aquele viagem ia acabar em tragédia. Não acabou. Mas nunca fui mais o mesmo.... ali eu vi minha vida passar pelos meus olhos, vi de verdade... e não gostei muito do que vi.
    Olhando pra trás, vi que muito tempo da minha vida eu deixei em coisas não produtivas, principalmente em auto-análises, no anseio de me conhecer, e tudo que descobri de mim mesmo é que eu joguei muito tempo fora. Dai a real vontade de carpe diem, por mais que eu tenha assistido "sociaedade dos poetas mortos" com 12 anos de idade. Não precisei de uma grande cagada pra aprender (se bem que ainda não aprendi completamente), ainda bem.
    Quanto ao caso da TAM, não tenho muito o que falar. Aqui do banco, 4 pessoas estavam no vôo. É triste, principalmente pq 180 pessoas morreram por burrice alheia. Não foi acidente, foi descaço típico de brasileiro. Por isso detesto tanto esse pais, e por isso detesto tanto gente burra.

     
  • Às 3:15 PM , Blogger Puta Véia disse...

    Complementando, minha saude esta uma bosta, nada pela tequila com coca, pq não curto nenhuma das duas, mas muito mais por uma combinação bem pior, estresse no trabalho e sedentarismo. Índice glicêmico na área de risco... pra um rapaz de 26 anos.
    Quem me conhece sabe que não sou grande defensor do trabalho, mas sei que o que eu faço hoje está me matando um pouco a cada dia. Estou deixando meu tempo aonde não quero, com gente que não gosto.
    Quando repenso minha vida, sempre coloco isso como o meu grande mal, algo que preciso acabar logo, pq é a minha vida que esta indo embora, não a de um personagem de desenho animado que nunca morre, o um personagem de video-game que tem restart. Minha vida esta fugindo de mim, e muito culpa das más escolhas que fiz no meu passado.
    Preciso replanejar meu futuro... e que isso sirva de conselho pra alguém

     

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