Faça-me o Favor!

Não nos responsabilizamos por mudanças súbidas de humor ou apetite, ofenças pessoais ou sentimentos inibidos que aflorem de quem por descuido venha a ler isso aqui. Queremos que tudo se exploda e não queremos explodir juntos. Não estamos aqui para sermos atacados, somos nos que atacamos. Ficamos em cima do muro mesmo, atirando pedra em quem passar em baixo, independente do lado.

quinta-feira, junho 28, 2007

Armless na Terrinha - Notas Sócio-Turísticas

Tudo em Salvador é um esculacho. Olhando desatentamente, tudo está em perfeita ordem. Mas quando se passa a olhar com um foco não muito minucioso, as coisas começas a parecer o que elas de fato são.
O governo, aparentemente, tem feito seu papel. A grande avenida perimetral da orla está sendo reformada, tudo bem sinalizado, novo. Muitos estabelecimentos comerciais também têm feito sua parte. Mas não é convincente. Pra uma cidade pretensamente turística, as coisas deveriam ser mais apresentáveis. Pois exemplifico.
Descemos o elevador Lacerda, depois do passeio no centro histórico e fomos almoçar no Mercado Modelo. Primeiro, que aquele lugar não passa de um amontoado de quinquilharias. Todas iguais e supérfluas. Não há quase nada de atraente lá a não ser badulaques diversos. Mas fomos lá no mezzanino (se é que essa palavra é válida em Salvador...) e havia uma vista maravilhosa da baía. O sol estava forte. Notei que havia um panegírico do Jorge Amado pintado na parede de frente pra entrada, e lá era citada a antiga tradição de boa comida do lugar. Como eu estava na fissura de comer comida típica (já que eu só tinha conseguido um McDonalds até então) não estressei de esperar MUITO pelo prato. Até, estava conformado com isso.
Mas o detalhe é que, quando serviram a mesa, todos os talheres e pratos eram diferentes, e estávamos em quatro pessoas!!! Não que eu faça questão, mas o caso é que isso denota capricho. Não vou falar do asseio do lugar por que parece que tô pegando no pé, mas havia inúmeros pontos de bolor nas paredes. O balcão estava caindo aos pedaços. Os talheres estavam tortos. A questão é que um lugar turístico tem um viés estético em tudo o que se faz. Aquilo não é rústico. É relaxado.
Tudo bem, mercado municipal, você vai dizer. Coisa pro povo (não é bem assim, mas aceito o protesto...), mas meu chefe ficou no Othon. Setecentos paus a diária. E lá, o pessoal não conseguia servir o almoço de forma correta e também havia problemas com os talheres. Não é falta de treinamento. É mentalidade.
Já estive no Maranhão. Terrinha pobre do diabo. Mas íamos nos quiosques e apesar de sempre serem muito humildes, havia capricho. Capricho mesmo. O pano da mesa era velho, mas estava limpinho. Os talheres eram simples, mas iguais. As fachadas eram conservadas na medida do possível. As paredes dos estabelecimentos do centro velho eram caiadas regularmente.
Em Salvador não. Não dava coragem de chegar perto dos quiosques em Itapoã. Não por sujeira, mas por que parecia que aquilo poderia cair a qualquer momento. E olha que quem está falando isso sou eu!!! Quem me conhece sabe que eu sou chegado em comida de rodoviária, não tenho frescura. Não fiquei com nojo de nada. Não é isso. Mas achei que pra uma cidade que tem aspirações turísticas que eu até chamaria de pedantes, a coisa é muito desleixada.

terça-feira, junho 26, 2007

Armless na Terrinha - Notas Sociais I

Salvador é uma cidade que não se decide se é grande, cosmopolita e atarefada ou se é pequena, aconchegante e hospitaleira. Isso causa um surto esquizofrênico no cidadão ou no turista mais atento por que muitos conservam os costumes do soteropolitano, mas não demonstram ter paciência com esse costume no outro. Eu quero minha baianidade (quero curtir) mas quero que vc traga logo meu acarajé!!!

É estranho observar isso, por que logo de cara, cheguei numa parte da cidade em que as pessoas estavam realmente atarefadas, e havia um trânsito digno da Marginal Tietê, com direito a caminhões e alguns motoqueiros. Interessante notar que o paulistano não buzina mais. Mas o soteropolitano buzina e esbraveja horrores. Isso é totalmente contra a imagem que eles tentam passar.

Saindo desse furdúncio, fomos caindo pra orla, e imediatamente me convenci da beleza natural do lugar. O hotel fica numa rua sem saída que dá numa encosta escarpada e pedregosa. Um banho, um café e vamos para o congresso.

O que dá pra ver logo de cara é um monte de gente jogando futebol na praia. Não são turistas. Parei um instante pra ver e sim, eram nativos que jogavam suas redes na água, e iam jogar bola. Perto da hora do almoço, puxam as redes, almoçam, jogam as redes de volta na água e voltam pro jogo. Claro que não fazem isso por esporte ou vagabundice, mas por falta de opção.

Esse é o tom da cidade ao longo de todos os dias que estive lá. Uma dicotomização social absurda. De um lado o povo, que não tem opções, nem emprego e nem porra nenhuma e de outro lado uma elite, abastadíssima e obviamente desmiolada.

Há uma tensão no ar. Não consegui relaxar andando na rua nenhum dia por lá. Existe uma hospitalidade semi-honesta sempre pronta pra te pegar de jeito. Não existe chance de se safar da malandragem se você não for um deles. Por que ou se é turista ou se é um dos playboys desmiolados, e aí, eu acho que sua situação é um pouco pior.

Não tenho como sustentar isso, mas em poucos anos Salvador vai virar o Rio de Janeiro. A cidade está espremida geograficamente num canto, e com a populaça procriando como de costume, eles vão sendo encantuados em redutos, que a classe rica não está mais conseguindo tamponar. Os elementos estão dados, a tensão existe. Descambar é questão de tempo.

segunda-feira, junho 25, 2007

Sugestão de Filme: V for Vendetta


V: [Evey pulls out her mace] I can assure you I mean you no harm.
Evey Hammond: Who are you?
V: Who? Who is but the form following the function of what and what I am is a man in a mask.
Evey Hammond: Well I can see that.
V: Of course you can. I'm not questioning your powers of observation I'm merely remarking upon the paradox of asking a masked man who he is.
Evey Hammond: Oh. Right.
V: But on this most auspicious of nights, permit me then, in lieu of the more commonplace sobriquet, to suggest the character of this dramatis persona.
V: Voilà! In view, a humble vaudevillian veteran, cast vicariously as both victim and villain by the vicissitudes of Fate. This visage, no mere veneer of vanity, is a vestige of the vox populi, now vacant, vanished. However, this valorous visitation of a by-gone vexation, stands vivified and has vowed to vanquish these venal and virulent vermin van-guarding vice and vouchsafing the violently vicious and voracious violation of volition.
[carves V into poster on wall]
V: The only verdict is vengeance; a vendetta, held as a votive, not in vain, for the value and veracity of such shall one day vindicate the vigilant and the virtuous.
[giggles]
V: Verily, this vichyssoise of verbiage veers most verbose, so let me simply add that it's my very good honor to meet you and you may call me V.
Evey Hammond: Are you like a crazy person?
V: I am quite sure they will say so. But, to whom am I speaking with?
Evey Hammond: I'm Evey.
V: Evey? E-V. Of course you are.
Evey Hammond: What does that mean?
V: It means that I, like God, do not play with dice and I don't believe in coincidences.

domingo, junho 24, 2007

Legowelt vs Sendex vs Orgue Electronique

Festinha ilegal em bunker na Holanda.

quinta-feira, junho 21, 2007

Armless na Terrinha - Notas Turtísticas I

O centro histórico é um horror! Pra uma cidade pretensamente turística, da qual se espera os devidos cuidados, tudo absolutamente decepcionante. Os prédios que deviam ser o carro-chefe não passam de ruínas. As pequenas lojinhas socadas em buracos na parede, todas abespinhadas de entulho. Quinquilharias caríssimas e inutilidades diversas. Não seria diferente a comida. Fotos pra lá e pra cá, e o máximo que se vê são degradações. Fachadas arruinadas. E invariavelmente, igrejinhas, caindo aos pedaços.

Outro horror é a clara mistura de estilos arquitetônicos, em pleno centro “histórico”. A bem da verdade, esse centro não passa de duas ladeiras de paralelepípedos super-estreitas que convergem para o pelourinho; que não passa de uma alameda onde não mais existe o dito cujo. Isso é sabido. O caso é que a atmosfera do lugar é absolutamente o contrário do propalado. Não é possível associar aquele lugar a alegria que se tenta transmitir. Como um lugar que era o centro de punições a escravos e de controle e coação social (obviamente sob os olhos da santa madre igreja) pode transmitir algo de positivo? A sensação é de que bastava olhar para a sarjeta e se poderia ver o sangue descendo, bem como se poderia ver o sangue seco nas frestas do calçamento.

Foi essa a sensação de todo o passeio. Ruínas e opressão.

quarta-feira, junho 20, 2007

Química Experimental

Segundo minhas fontes de cultura inútil, embora o britânico Joseph Priestley leve a fama por ter sido o responsável pelo isolamento do oxigênio, na verdade "o cara" foi um farmacêutico sueco de nome Carl Wilhelm Scheele.

O cidadão deveria ser realmente talentoso, afinal entre seus feitos encontram-se a descoberta do cloro, do manganês, do tungstênio e de outros elementos e substâncias. Entre essas, infelizmente, o venenoso ácido cianídrico.

O fraco do sueco (e todos nós temos nossos fracos, não riam dele) era experimentar seus produtos de síntese. Que atire a primeira pedra o químico que nunca sentiu vontade de dar só um golinho naquela solução misteriosa...

Morreu envenenado aos 43 anos.

Moral da história: não adianta ser um gênio se você não consegue ficar com a boca fechada quando necessário.

segunda-feira, junho 18, 2007

Testemunho da anormalidade

O tempo passa, as histórias vêm e eu vou entendendo por que não sou normal, e não haveria como ser. Muitas vezes sentia uma certa culpa por ser como era e me escondia um pouco; depois, passei a fazer o contrário e deu mais errado ainda ao me gabar das minhas felicidades. Hoje tento compartilhar os meus pontos de vista com as pessoas com quem convivo. São poucas, e tendo a clara noção da minha personalidade difícil, sinto que realmente gostam de mim.
Fato é que eu vejo pessoas talentosas, inteligentes e com todas as coisas físicas necessárias pra serem felizes, mas não conseguem. Dentre muitos sintomas e muitos problemas vindos de traumas, existe uma coisa que é a que mais me assusta e a que mais me parece descabida, a dificuldade de crescer.
Janis conhece o Nenê. Conversei muito com ela sobre ele. Nenê é uma das pessoas mais expansivas, inteligentes e promissoras que conheço. Não fosse sua teimosia obstinada em manter seu mundo como ele era no tempo dos quinze anos. Vídeo-game, a saia da mãe, almoço com a vovó, e todas as coisas que a PV disse no outro post. Falo do Nenê por que ele é um caso tão caricaturalmente emblemático pra mim, que compreendi muito da minha maneira de ser à partir dele. E o que eu sou?
Minha mãe era aquela que começava a guerra de farinha quando fazíamos bolo; ela que começava a jogar água na gente quando chegávamos da escola na hora do almoço em dias de calor, com uniforme e tudo, ela que mandava a gente tirar os móveis da sala pra brincarmos com mais largueza em dias de chuva e no inverno. Essa aí, minha mãe, é filha de um sujeito que comprou um sítio quando eu nasci, e lá ele me ajudava a fazer espadas de madeira pra brincarmos nos fornos de carvão desativados que eram meus castelos, e que depois passaram a ser os abrigos anti-bomba, com metralhadoras feitas de canos de metal. Dormíamos na Kombi antes de ter casa e comíamos as gororobas mais insanas, sem luz e só um radinho rouco tocando o programa do Zé Bétio a noite toda... tive uma criação de interior, mesmo morando na cidade. E passamos muita dificuldade material.
Fiz tudo o que quis na minha infância. Tudo. Não tinha motivo pra me esconder da realidade em video-games ou nas químicas quando a adolescência chegou. Brigava na rua, batia, apanhava, era ruim de bola que dava medo, o que fez de mim um goleiro até razoável; veio a música, mas eu não queria tocar as músicas que todos tocavam por que não queira atenção. Queria me expressar, e isso geralmente excluía popularidade. Tive maus momentos, principalmente materiais na adolescência. Não me fizeram ter raiva de nada, por que não era culpa de ninguém os desempregos do meu pai além dele mesmo. Não deixei de brigar e me desentendeer com ele, mas não tinha raiva das coisas que aconteciam. Eu sabia que entenderia melhor as coisas.
E foi por sempre tentar entender melhor as coisas (fruto de uma longa conversa com minha mãe que começou na primeira série e não terminou até hoje - sobre Conseqüência) é que eu, num dado momento, me toquei de que só entenderia melhor as coisas se o tempo passasse. Sempre ouvi pregações relacionadas ao passar-do-tempo e o aumento da sabedoria. Não tenho primos de primeiro grau, e não tive muito contato com meus parentes; era muito individualista na escola e não me dava bem com meus amiguinhos (eu os achava muito burros, com poucas exceções). Acabava então vivendo perto de adultos e os ouvia. Podia ser que se os ouvisse, eu não acertaria aquela puta bola dentro - típica da juventude - mas deixavade errar, sem maiores problemas. Por outro lado, se os ouvisse, certamente evitaria desastres - também típicos da juventude. Eu admirava a capacidade de previsão deles, que era quase-mágica. E nessas, acabei gostando de crescer.
Mas toda passagem é dolorosa. E não haveria de ser diferente, mesmo gostando de crescer. As necessidades da vida, as obrigações e as coisas que vc tem que dar conta conforme se compromete com elas... aborrecimentos e as coisas atávicas do mundo desmazelado!!! Mas aí entram as duas coisas que são o cerne desse post: As Conseqüências e a paz consigo.
As Conseqüências são aquelas coisas que acontecem em respostas aos nossos atos. E aos atos de outros. E isso não é óbvio por muito tempo na nossa vida. Os pais da nossa geração, de forma geral, fizeram de tudo pra proteger os seus do mundo e das mazelas dele. Eles foram largados como animais por aí, e tiveram que se virar. Os protegeram demais. Quando os filhos se viram impelidos a assumir suas próprias responsabilidades, as sentiram com um peso que eles não haviam escolhido carregar, o que é verdade!!! Era também o peso do mundo dos seus pais. Por outro lado, os pais, que fizeram o melhor possível, de longe, não fizeram o certo. Ao proteger seus filhos, evitaram que eles vivessem o mundo. Tentaram fazer das crianças aquilo que eles não conseguiram ser. E os cobraram por isso, o que eu acho de longe, o pior de tudo. Não escolhi nascer. Minha mãe sempre disse que por ter consciência disso, não me obrigava ao que eu não quisesse, mas jamais me eximiu de ter que encarar as conseqüências dos meus atos desde muito cedo. Assim, sempre pude fazer tudo o que quisesse, sabendo que responderia por tudo isso.
Daí advém a paz. Tudo o que eu fiz, poderia ter feito de outra forma. Mas como podemos saber como fazer se ninguém nos ensinou? E mesmo que tivesse ensinado, era pela ótica e verdade deles e não pela nossa, qual a vantagem? O resultado eu sei: esse monte de jovem infeliz por que não quer levar uma vida que não escolheu, por que tem uma ótica que carrega a recusa da infância em aceitar o mundo como ele é, mas com crítica para saber que as coisas não precisavam ser assim. Penso que não pode haver agonia maior do que essa. Vejo isso cada vez com mais clareza.
Volto no Nenê. Ele largou uma faculdade na usp e foi, na usp mesmo, fazer psicologia. Está na bica de se formar. Passamos regularmente muito tempo conversando sobre isso. E é muito triste por que de um lado ele enxerga tecnicamente todas as coisas que acontecem com ele e principalmente na sua recusa em crescer, mas não consegue se libertar desse processo crônico de se prender numa ótica que não corresponde mais ao seu lugar no mundo. Sua alegação é que é paradoxal ele ser feliz num mundo que é infeliz. Mas essa infelicidade do mundo dele é a infelicidade que ele enxerga, pela ótica da infelicidade do mundo dele.
Venderam nossos ídolos, venderam nossas ideologias, e mesmo as coisas mais nobres acabaram caindo na mídia pra alimentar o vazio dessa vida doida que se leva. "Se o Diabo veste Prada, eu quero ser John Malkovitch". O trocadilho é irresistível por que mostra as inverdades sedutoras. Mas a realidade é o que é.
Não deixei de sonhar. Não deixei de gostar de Pica-Pau. Mas não deixei de crescer. É inevitável. Os romanos diziam que os fados acompanham aqueles que caminham; os que resistem, eles arrastam. Não é resignação, mas é a compreensão de que o nosso papel na nossa vida sempre muda. Por isso, faça o melhor possível. Não é se resignar, é entender que as coisas serão sempre diferentes. Quanto a ser feliz, quem me conhece sabe o que sou. Sabe das coisas que me emocionam de verdade e sabem dos apertos por que passei. Não quero aplausos, mas aceito críticas. Não quero nada, só continuar seguindo meu caminho, fazendo o que eu gosto e colhendo tudo o que plantei, de cabeça erguida, pois não sou vítima de nada nem de ninguém, só dos meus próprios atos.
E é isso que faz de mim uma pessoa tão anormal.

sábado, junho 16, 2007

Quando deixamos de ser criança

Depois de um long and lonely winter, eis que deixo um pouco do meu tempo aqui neste blog. Deixar no sentido de que o tempo é uma das únicas coisas que realmente temos, e um dos motivos que estamos nessa terra (um pouco da minha "teoria de sentido da vida"), deixar um pouco de nosso tempo, seletivamente, em casa lugarzinho que gostamos.


Minha jornada de auto conhecimento teve bons frutos. Hoje uso melhor o meu tempo, escolho melhor aonde vou deixá-lo por ai. Melhorei com minha ansiedade, meu egoísmo, meu desperdício de tempo e minha dificuldade de curtir a alegria alheia, (todos esses tópicos futuros neste blog). E muito desse tempo que tive eu deixei vendo uns filmes de um tal de Hayao Miyazaki (http://www.imdb.com/name/nm0594503/), um japa super-sangue-bom, diretor de desenhos animados pra criança (atentem para esse pra criança) e que me ajudou muito a ser uma pessoa melhor pra mim mesmo nos 4 itens que mencionei acima.
O grande lance do cara é que ele consegue, e talvez só ele, ser um adulto fazendo filmes pra crianças.... é difícil de falar sem mostrar, mas todo o universo é muito infantil; personagens, ações e principalmente, percepções.... tudo no filme é feito com os olhos de uma criança, ideal para você relembrar daquela ingenuidade, daquele prazer em descobrir coisas que hoje nem nos damos conta (como por exemplo, abrir uma lata de atum; aquela coisa mágica de enfiar um ferro em outro ferro, e movimentando de cima para baixo e girando a lata, você consegue libertar a pasta que você aprende ser o único peixe que não tem formato de peixe), e o melhor de tudo, vivendo com gosto aqueles sonhos infantis que seus pais fizeram questão de lhe tirar da cabeça falando que monstros existem, ou que fantasmas são ruim.
Tonaro no Totoro (o grandão sorridente da foto ao lado), um desses filmes que vi, é um ótimo exemplo. Conta a história de uma família (pai, 2 meninas e mãe, que ainda esta doente no hospital), mudando pra uma casa na mata, que depois se descobre ser assombrada (e o pai acha isso o máximo, fala que sempre sonhou com isso). Não existe uma grande aventura no filme, mas a graça está na beleza e no cuidado com os desenhos, na alegria que cada cena do filme tem (é praticamente impossível ver algum medo, irritação, inveja, raiva... esses sentimentos "adultos") e em especial pelo tempo que as coisas levam pra acontecer (tudo é tão "natural".. as cenas são completas, sem precisar cortar um pequeno pedacinho, como quando estão fechando a porta.. em um desenho americano, ansioso pelo mercado, cortariam aqueles segundos antes da porta de fechar completamente... no filme do Miyasaki, a porta de fecha completamente, inclusive com mais 0,5 ou 1 segundo somente com ela). Pra um ansioso semi-inato como eu, a diferença é gritante, principalmente pq cresci somente com filmes americanos.... com tempos de americanos.

O grande trunfo mesmo é que ele consegue criar e manter, até o final do filme, um "ambiente" infantil. Os filmes não tem dramas ou reviravoltas, populares no cultura ocidental, são simplesmente são fatos infantis. Desde buscar água em um rio até ajudar o pai a lavar roupa.... tudo é sempre legal, sempre alegre. E por manter tudo isso por todo o filme, deixa você impregnado desse clima de alegria. Simplesmente você fica mais feliz, e duvido que exista alguma pessoa inteligente, em sã consciência, que não fique feliz depois de um filme do Miyasaki (e se não ficar, procure ajuda, pq você está triste demais).

Um bom amigo meu também compartilha dessa ideia e cita os filmes da Disney pra mostrar essa diferença... os filmes Disney, destinados ao público infantil, são centrados em personagens de adultos (pateta, Tio patinhas, mickey, Rei Leão) com temas de adulto (dinheiro, casamento, reinar) e com histórias de adulto (o corcunda que quer seu reconhecimento, o leão que se tornará rei da foresta... tudo é tão futuro, tão pro final do filme). São sempre o olhar adulto olhando pelo criança.

Outra coisa que não dá pra deixar pra lá é a falta de preconceito que o filme tem. Em outro filme, o Serviço de entregas da Kiki, fala de uma bruxinha que muda de cidade, mas convive normalmente com outras pessoas não-bruxas, como se a única diferença dela fosse a cor do cabelo, ou sua altura. Ser bruxa é só mais uma diferença... nos que aprendemos que algumas dessas diferenças devem ser vistas com ressalvas.

Mas entrando finalmente no tema deste post, me toquei que deixamos de ser criança aos poucos, mas sempre causados pelo mundo ao nosso redor. São as pessoas que vão nos transformando em não-crianças, vão nos transformando naquilo que não nascemos... vão cortando nossos baratos de imaginar um monstro imaginário, de que podemos voar... e vão preenchendo com a idéia de que as coisas são perigosas, de que temos que fazer alguma coisa... de nos encher dos medos que temos hoje. Ser adulto é estar preenchido por medos... não são nossos gostos de definem nossas ações, são nossos medos. É nosso medo de ser miserável que nos faz trabalhar, é o medo de ser assaltado que nos faz morar em apartamentos seguros e desconfortáveis comparados com uma casa de interior.
Miyasaki brinca muito com isso, mostrando cenas em que um adulto teria medo (como estar a 10 cm da boca gigante de um monstro gigante, mas uma criança, com toda aquela ausência de medo, acha a coisa mais legal do mundo.
E o respeito pela alegria alheia é o melhor, e o que tem me ajudado muito. Imagine uma criança rindo pq esta jogando farinha pra cimaç é de se esperar uma mãe entrando brava falando pra não fazer aquilo, que suja e tal.... nesses desenhos você veria a mãe entrando rindo, brincando com a filha e fazendo a mesma coisa.

Me enrolei demais pra falar um pouco do que queria (é muito tempo e conhecimento adquirido pra querer compartilhar), mas é isso aí.
Estou de volta... melhor do que antes. Voltando a ser criança.

quarta-feira, junho 13, 2007

Daquilo que muda e Daquilo que não muda

Meses atrás eu estava assistindo CSI (se eu fosse inteligente de verdade e vivesse num país de primeiro mundo, essa seria minha profissão de escolha, mas isso não vem ao caso!!) e os caras estavam tendo uma conversa sobre o DNA do bandido e eis que um dos personagens falou um negócio bem legal: "What you are" never change but "who you are" never stop changing.

Gostei tanto da frase que levantei da cama e tomei nota disso num pedaço de papel. (FATO: séculos atrás, quando eu era uma funcionária neurótica, costumava ter um bloquinho de anotações e uma caneta na cabeceira da cama pois não raras vezes acordava no meio da noite com pendências a serem resolvidas, dúvidas inquietantes ou idéias mirabolantes para a condução dos projetos e tinha que tomar nota. Passada essa fase, escondi o bloquinho e agora tenho que tirar minha bunda do lugar pra anotar algo). A frase ficou então martelando na minha cabeça e acabou por povoar toda uma reflexão.

Afinal, de onde vem a velha premissa do "fulano não vai mudar nunca" ou o famoso "caramba, como ele mudou!!"? E por que é que tem coisas na vida da gente que a gente insiste em dizer "isso eu não vou mudar jamais", reforçando/justificando ser uma característica da sua essência como ser humano de personalidade X, Y ou Z? E por que quando são (não raras vezes) essas mesmas características mas NOS OUTROS, você faz de tudo pra mudar O OUTRO?

Complexo demais? Pois bem, então vamos pra algo mais básico... Se admitimos que mudamos (não, não há como negar), quando é que diabos se muda? Quando se quer mudar ou isso acontece com o vento (pra não dizer com o tempo e direcionar a resposta)? O que pode ser classificado como amadurecimento e o que é só uma "boba/trivial" mudança? Há coisas que de fato não mudam nunca? Quais são elas? Como identificá-las? Isso é positivo (indeed)? Há "volta" nas mudanças ou seriam novas mudanças? Temos escolha (consciênte, onipotente e onipresente) nas/das mudanças? Em quais delas? Bom, eu falei aí acima do meu bloquinho de anotações... pois me digam: O que mudou?? Quando mudou?? Por que mudou??

Seja lá como for, o quanto cada um leva isso tudo a sério é que no final faz toda a diferença. E lá está Janis correndo atrás do rabo mais uma vez....

segunda-feira, junho 11, 2007

Armless John na Terrinha - Atos Impensados I

Pra quem não sabe (e a quem interessaria saber isso?) há duas semanas estive em Salvador num congresso. Escrevi muitas das impressões sobre lá. Pertinentes ou não, não acho que aqui seja o lugar pra comentá-las. Mas me ocorreram episódios que vão bem como uma série sobre Armless John na terrinha. O título abre a série.

"Numa noite, já bastante embriagado, tentava procurar um lugar pra mijar lá no centro. Achei um canto bom, pouca luz; apesar de uns holofotes na frente, o lado de trás da estátua tava na boa. Estava eu aliviando a bexiga quando meu companheiro alerta pra que eu fosse rápido. Não liguei até ver uma curriola daqueles mendigos e coisa bem pior se aglomerando rápido e se aproximando mais rápido ainda.
Levantei o zíper e corremos até o táxi mais próximo. O taxista disse, "É, guri, tua sorte é que eu também odeio esse lugar e estava nesse ponto a essa hora da noite. Bah, mas também é verdade que eu nunca tive (com o dedo em riste) A Coragem de mijar no pé do Ogum do espelho dágua do Tororó... o senhor é de coragem mesmo!!! A propósito, o senhor não acredita em macumba, né?"

Mas será o fim dos tempos???

O ócio faz com que encontremos notícias interessantes na net... como esta: http://www.mundodaastronomia.com/noticias/ciencias/0,,P4LL45369-5601,00.html

E no mais, fica a pergunta: o que você faria se o mundo fosse mesmo acabar em meados de Julho??

Boa semana.... carpe diem....

sábado, junho 09, 2007

la tigresa del oriente

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segunda-feira, junho 04, 2007