Depois de um
long and lonely winter, eis que deixo um pouco do meu tempo aqui neste blog. Deixar no sentido de que o tempo é uma das únicas coisas que realmente temos, e um dos motivos que estamos nessa terra (um pouco da minha "teoria de sentido da vida"), deixar um pouco de nosso tempo,
seletivamente, em casa
lugarzinho que gostamos.
Minha jornada de
auto conhecimento teve bons frutos. Hoje uso melhor o meu tempo, escolho melhor aonde vou deixá-lo por ai. Melhorei com minha
ansiedade, meu
egoísmo, meu
desperdício de tempo e minha
dificuldade de curtir a alegria alheia, (todos esses tópicos futuros neste blog). E muito desse tempo que tive eu deixei vendo uns filmes de um tal de
Hayao Miyazaki (
http://www.imdb.com/name/nm0594503/), um
japa super-sangue-bom,
diretor de desenhos animados pra criança (atentem para esse
pra criança) e que me ajudou muito a ser uma pessoa melhor pra mim mesmo nos 4 itens que mencionei acima.
O grande lance do cara é que ele consegue, e talvez só ele, ser um adulto fazendo filmes pra crianças.... é
difícil de falar sem mostrar, mas todo o universo é muito infantil; personagens,
ações e principalmente, percepções.... tudo no filme é feito com os olhos de uma criança, ideal para
você relembrar daquela ingenuidade, daquele prazer em descobrir coisas que
hoje nem nos damos conta (como por exemplo, abrir uma lata de atum; aquela coisa mágica de enfiar um ferro em outro ferro, e movimentando de cima para baixo e girando a lata,
você consegue libertar a pasta que você aprende ser o único peixe que não tem formato de peixe), e o melhor de tudo, vivendo com gosto aqueles sonhos infantis que seus pais fizeram questão de lhe tirar da cabeça falando que monstros existem, ou que fantasmas são ruim.
Tonaro no
Totoro (o grandão sorridente da foto ao lado), um desses filmes que vi, é um
ótimo exemplo. Conta a história de uma família (pai, 2 meninas e mãe, que ainda esta doente no hospital), mudando pra uma casa na mata, que depois se descobre ser assombrada (e o pai acha isso o máximo, fala que sempre sonhou com isso). Não existe uma grande aventura no filme, mas a graça está na beleza e no cuidado com os desenhos, na alegria que cada cena do filme tem (é praticamente impossível ver algum medo, irritação, inveja, raiva... esses sentimentos "adultos") e em especial pelo tempo que as coisas levam pra acontecer (tudo é tão "natural".. as cenas são completas, sem precisar cortar um pequeno pedacinho, como quando estão fechando a porta.. em um desenho americano, ansioso pelo mercado, cortariam aqueles segundos antes da porta de fechar completamente... no filme do
Miyasaki, a porta de fecha completamente, inclusive com mais 0,5 ou 1 segundo somente com ela). Pra um ansioso
semi-inato como eu, a diferença é gritante, principalmente
pq cresci somente com filmes americanos.... com tempos de americanos.
O grande trunfo mesmo é que ele consegue criar e manter, até o final do filme, um "ambiente" infantil. Os filmes não tem dramas ou reviravoltas, populares no cultura ocidental, são simplesmente são fatos infantis. Desde buscar água em um rio até ajudar o pai a lavar roupa.... tudo é sempre legal, sempre alegre. E por manter tudo isso por todo o filme, deixa você impregnado desse clima de alegria. Simplesmente você fica mais feliz, e duvido que exista alguma pessoa inteligente, em sã consciência, que não fique feliz depois de um filme do Miyasaki (e se não ficar, procure ajuda, pq você está triste demais).
Um bom amigo meu também compartilha dessa ideia e cita os filmes da Disney pra mostrar essa diferença... os filmes Disney, destinados ao público infantil, são centrados em personagens de adultos (pateta, Tio patinhas, mickey, Rei Leão) com temas de adulto (dinheiro, casamento, reinar) e com histórias de adulto (o corcunda que quer seu reconhecimento, o leão que se tornará rei da foresta... tudo é tão futuro, tão pro final do filme). São sempre o olhar adulto olhando pelo criança.
Outra coisa que não dá pra deixar pra lá é a falta de preconceito que o filme tem. Em outro filme, o Serviço de entregas da Kiki, fala de uma bruxinha que muda de cidade, mas convive normalmente com outras pessoas não-bruxas, como se a única diferença dela fosse a cor do cabelo, ou sua altura. Ser bruxa é só mais uma diferença... nos que aprendemos que algumas dessas diferenças devem ser vistas com ressalvas.
Mas entrando finalmente no tema deste post, me toquei que deixamos de ser criança aos poucos, mas sempre causados pelo mundo ao nosso redor. São as pessoas que vão nos transformando em não-crianças, vão nos transformando naquilo que não nascemos... vão cortando nossos baratos de imaginar um monstro imaginário, de que podemos voar... e vão preenchendo com a idéia de que as coisas são perigosas, de que temos que fazer alguma coisa... de nos encher dos medos que temos hoje. Ser adulto é estar preenchido por medos... não são nossos gostos de definem nossas
ações, são nossos medos. É nosso medo de ser miserável que nos faz trabalhar, é o medo de ser assaltado que nos faz morar em apartamentos seguros e desconfortáveis comparados com uma casa de interior.
Miyasaki brinca muito com isso, mostrando cenas em que um adulto t
eria medo (como estar a 10 cm da boca gigante de um monstro
gigante, mas uma criança, com toda aquela ausência de medo, acha a coisa mais legal do mundo.
E o respeito pela alegria alheia é o melhor, e o que tem me ajudado muito. Imagine uma criança rindo
pq esta jogando farinha pra cimaç é de se esperar uma mãe entrando brava falando pra não fazer aquilo, que suja e tal.... nesses desenhos
você veria a mãe entrando rindo, brincando com a filha e fazendo a mesma coisa.
Me enrolei demais pra falar um pouco do que queria (é muito tempo e conhecimento adquirido pra querer compartilhar), mas é isso aí.
Estou de volta... melhor do que antes. Voltando a ser criança.