Armless na Terrinha - Notas Sociais I
Salvador é uma cidade que não se decide se é grande, cosmopolita e atarefada ou se é pequena, aconchegante e hospitaleira. Isso causa um surto esquizofrênico no cidadão ou no turista mais atento por que muitos conservam os costumes do soteropolitano, mas não demonstram ter paciência com esse costume no outro. Eu quero minha baianidade (quero curtir) mas quero que vc traga logo meu acarajé!!!
É estranho observar isso, por que logo de cara, cheguei numa parte da cidade em que as pessoas estavam realmente atarefadas, e havia um trânsito digno da Marginal Tietê, com direito a caminhões e alguns motoqueiros. Interessante notar que o paulistano não buzina mais. Mas o soteropolitano buzina e esbraveja horrores. Isso é totalmente contra a imagem que eles tentam passar.
Saindo desse furdúncio, fomos caindo pra orla, e imediatamente me convenci da beleza natural do lugar. O hotel fica numa rua sem saída que dá numa encosta escarpada e pedregosa. Um banho, um café e vamos para o congresso.
O que dá pra ver logo de cara é um monte de gente jogando futebol na praia. Não são turistas. Parei um instante pra ver e sim, eram nativos que jogavam suas redes na água, e iam jogar bola. Perto da hora do almoço, puxam as redes, almoçam, jogam as redes de volta na água e voltam pro jogo. Claro que não fazem isso por esporte ou vagabundice, mas por falta de opção.
Esse é o tom da cidade ao longo de todos os dias que estive lá. Uma dicotomização social absurda. De um lado o povo, que não tem opções, nem emprego e nem porra nenhuma e de outro lado uma elite, abastadíssima e obviamente desmiolada.
Há uma tensão no ar. Não consegui relaxar andando na rua nenhum dia por lá. Existe uma hospitalidade semi-honesta sempre pronta pra te pegar de jeito. Não existe chance de se safar da malandragem se você não for um deles. Por que ou se é turista ou se é um dos playboys desmiolados, e aí, eu acho que sua situação é um pouco pior.
Não tenho como sustentar isso, mas em poucos anos Salvador vai virar o Rio de Janeiro. A cidade está espremida geograficamente num canto, e com a populaça procriando como de costume, eles vão sendo encantuados em redutos, que a classe rica não está mais conseguindo tamponar. Os elementos estão dados, a tensão existe. Descambar é questão de tempo.
2 Comentários:
Às 6:04 PM , Puta Véia disse...
O problema não é a Bahia, ou Salvador, ou o Rio de Janeiro (talvez até seja, mas seguindo no raciocínio). O problema é esse país inteiro que abriga um monte de desmiolados, com gravíssimos problemas econômicos (que um dia terei imenso prazer em falar, mesmo que sempre que falo sobre isso me explode uma raiva sem igual) e sociais, com idiotas governando idiotas, importanto tudo o que lhe cabe, mesmo que não caiba muito bem na realidade nacional.
Mas fato é que temos um problema endêmico (lembrei dessa palavra quando um relatorio da Standard & Poors disse que a corrupção no Brasil era endêmica e todo brasileiro ficou puto), e problema de burrice atrelada a pobreza. Uma coisa é ser burro americano, como tanto reclamou nosso amigo burocrata, mas quando tá junto com pobreza, e pra piorar, com a tradicional metideza brasileira quando estamos falando de nos mesmos para fora, aí vira a merda que a gente vive.
Burrice gera o caos político que vivemos, sem controle economico, financeiro e social (sem segurança / educação / saude). Pobreza gera a raiva que a maioria da classe baixa tem. Basta só uma arma na mão e uma idéia na cabeça e temos nosso cotidiano.
A desgraça não está em Salvador, mas lá também
Às 6:33 PM , Anônimo disse...
Comentei isso sobre lá por que me pareceu que lá há um conflito que é subestimado. É um problema de tamponamento mesmo. Em São Paulo a coisa tem pra onde expandir. No Rio ficou tão feio por que concentrou. Em Recife há pra onde expandir. Em São Luís ninguém tem porra nenhuma e essas diferenças não aparecem. Em Porto Alegre as diferenças existem, mas elas são muito mais sutis. Certa vez li num estudo sociológico bem sério que uma determinada sociedade começa a ter problemas mais profundos quando a classe média desaparece ou está fortemente suprimida. Aí, é uma questão de física básica. Quanto maior o delta, maior o potencial e maior a transformação da energia potencial em cinética. E é claro que essa cinética é criminalidade.
Em tempo, tb me irrito profundamente com as coisas que vejo. Agora, vai começar a tentativa de golpe brando dos nossos governantes. Minha angústia não é com o que aocntece, mas com a falta de alternativas contra. Cada vez mais, só sobrará a violência de efetivo.
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