Faça-me o Favor!

Não nos responsabilizamos por mudanças súbidas de humor ou apetite, ofenças pessoais ou sentimentos inibidos que aflorem de quem por descuido venha a ler isso aqui. Queremos que tudo se exploda e não queremos explodir juntos. Não estamos aqui para sermos atacados, somos nos que atacamos. Ficamos em cima do muro mesmo, atirando pedra em quem passar em baixo, independente do lado.

quarta-feira, novembro 07, 2007

"A gente leva da vida, a vida que a gente leva"

Não é nenhuma novidade que dinheiro, viagens, status, beleza e outras coisinhas mundanas são sonhos de consumo de muita gente, mas não dão sentido à vida de ninguém. A única coisa que justifica nossa existência são as relações que a gente constrói. Só os afetos é que compensam a gente percorrer uma vida inteira sem saber de onde viemos e para onde vamos. Diante da pergunta enigmática - por que estamos aqui? - só nos consola uma resposta: para dar e receber abraços, apoio, cumplicidade, para nos reconhecermos um no outro, para repartir nossas angústias, sonhos, delírios. Para amar, resumindo.

Piegas? Depende de como essa história é contada. Se for com um power-point de frases batidas e musiquinha romântica, é piegas à beça. Mas se for através de um filme inteligente, sarcástico, tragicômico como Invasões Bárbaras, o piegas passa à condição de arte. O filme é uma espécie de continuação de O Declínio do Império Americano. Naquele, um grupo de amigos se encontrava numa casa à beira de um lago e discutia sobre vida, morte, sexo, política, filosofia. Em Invasões Bárbaras, estes mesmos amigos, quase 20 anos depois, se reencontram por causa da doença de um deles, que está com os dias contados. Descobrem que muitos dos seus ideais não vingaram, que muita coisa não saiu como o planejado, só o que sobrou mesmo foi a amizade entre eles. E a gente se pergunta: há algo mais nesta vida pra sobrar? Quando chegar a nossa hora, o que realmente terá valido a pena?

Os rostos, risadas, amantes, pernas, beijos, confidências e olhares que nos fizeram felizes por variados instantes, que preencheram o vazio da alma nas suas guardadas proporções. Pais e filhos, companheiros, amigos: são eles que sustentam a nossa aparente normalidade, são eles que estimulam a nossa funcionalidade social. Se não for por eles, se não houver um passado e um presente para com eles compartilhar, com que identidade continuaremos em frente? Que história teremos para carregar? Quem testemunhará que aqui estivemos? Só quem nos conhece a fundo pode compreender o que nos revira por dentro, qual foi o trajeto percorrido para chegarmos neste exato ponto em que estamos, neste estágio de assombro ou alegria ou desespero ou seja lá em que pé estão as coisas pra você. Se não nos decifraram, se não permitimos que aplicassem um raio-X na gente, então não existimos, o sentido da vida foi nenhum.

Todas as pessoas querem deixar alguns vestígios para a posteridade. Deixar alguma marca. É a velha história do livro, do filho e da árvore, o trio que supostamente nos imortaliza. Filhos somem no mundo, árvores são cortadas, livros mofam em sebos. A única coisa que nos imortaliza - mesmo - é a memória daqueles que nos amaram.

24 Comentários:

  • Às 1:55 PM , Anonymous Anônimo disse...

    mas, como você e eu, eles também morrem: não sobra nada.

     
  • Às 2:08 PM , Blogger Janis disse...

    Huummm... temos um leitor niilista!! Bem, meu caro, você pode sim me chamar de otimista, mas creio que, como humanos, o nonsense essencial consiste em acreditarmos naquilo que inventamos e fazer de conta que a realidade estava de férias quando decretamos a verdade absoluta.

    Mas, se não quiser levar as minha palavras a sério, fique com as do Borges: "Já somos o esquecimento que seremos, a poeira elementar que nos ignora, que não foi Adão e que é agora todos os homens. Somos apenas duas datas: a do princípio e a do término. Não sou o insensato que se aferra ao mágico som de seu próprio nome. Penso com esperança naquele homem que não saberá o que fui sobre a terra. Abaixo do indiferente azul do céu, esta meditação é um consolo."

     
  • Às 10:21 PM , Blogger Puta Véia disse...

    papo cabeça esse hein?

    As vezes acho bem vero esse lance de o que fica mesmo é aquilo que vc viveu, e não com o que vc conquistou. Mas tb vejo que é bom lembrar daquilo que vc conquistou, pq naquele momento foi um momento bom.
    O que estou querendo dizer que cada um escolhe qual é o melhor momento pra ele, seja amando alguém ou escalando o Everest. Cada um decide o que é melhor pra si, e vc Janis, decidiu pelo lado das relações, o que talvez pra um monte de gente deva parecer banal... assim como aparentemente vc acha dos outros.

    E ler um pouco disso me deixou preso a uma idéia inicial... o lance da memoria e que as memorias que merecem ser lembradas são só as boas.
    Durante um tempo ruim da minha vida, em que não andava bem e me entopia de ansiolítico, eu acho que fazia uma pá de coisas, mas não tenho quase nenhuma memória daquela época. Será que não fiz nada que merecia ser lembrando ou simplesmente são os efeitos colaterais mal tradados pela farmacologia (e tb pelo seu pessoal de garantia de qualidade)?

     
  • Às 2:05 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Não sei... acho que nessa história de "o que vale a pena" sou muito do que diz meu avô. Concordo com ele e tento usá-lo com a maior abrangência possível, denotando uma tolerância que, de longe, não me é peculiar.
    O velho diz pra mim... "Um dia seus amigos morrem, o amor da sua vida também, seus irmãos. Seus filhos vão embora e seus netos aparecem de vez em quando. Olha tudo o que eu consegui na vida! Não faz mais diferença ter a casa grande. O carro tá em ordem, mas não consigo mais dirigir. Posso comprar a comida que me der vontade, mas não tenho mais apetite. Posso dormir até a hora que quiser, mas não tenho sono. O que sobra nessa vida pra mim? Lembrança. As lembranças. Vc vai saber quanto viveu de verdade se chegar na minha idade e tiver história pra contar. Na minha idade, toda história é boa. Não importa quanto vc tenha se dado bem ou se dado mal, no final das contas, são histórias. E vai ser a única forma de saber se vc viveu mesmo ou só ficou olhando. Aí eu sento, acendo meu cigarro e fico rindo sozinho no final de cada tarde olhando esse matão que não tem fim. E quando vc vem a gente toca viola. E quando meu irmão aparece, a gente lembra das coisa. E é isso aí. Arranja história pra contar. No final, todas elas serão boas. Cada uma do seu jeito, mas serão boas."

    Essas palavras vão comigo até o último dia da minha vida, e eu sei que há mais pessoas que tb ouviram isso e que tb foram tocadas. Oras, não é essa a eternização do meu avô, nas suas palavras, na sua presença no coração de pessoas que vão levar essas palavras adiante - na forma de atos e ensinamentos, modo de vida e ética? Penso que essa é a eternidade que podemos atingir. No microcosmo das nossas vidas. E não muito além disso.

     
  • Às 2:29 PM , Anonymous Anônimo disse...

    imortalidade? eternidade? quanta pretensão se esconde nesses discursos que, ao fingir humildade, acabam por ser ainda mais arrogantes.

     
  • Às 2:29 PM , Anonymous Anônimo disse...

    imortalidade? eternidade? quanta pretensão se esconde nesses discursos que, ao fingir humildade, acabam por ser ainda mais arrogantes.

     
  • Às 2:49 PM , Anonymous Anônimo disse...

    É, John... o importante na vida é ter ENREDO. Já falei isso muitas vezes, mas não canso de repetir. Seu avô (e minha avó também) se não estiverem certos, são o mais próximo da verdade que poderemos chegar.

    Quanto ao niilista de plantão, tem um tanque cheio de roupas lá em casa... vc não quer dar uma passada e cuidar disso enquanto pensa sobre importalidade, eternidade, humildade e arrogância??

     
  • Às 3:02 PM , Anonymous Anônimo disse...

    ops... imortalidade

     
  • Às 3:47 PM , Anonymous Anônimo disse...

    N., sou arrogante mesmo. Por que sei que sou foda e não se encontra em qualquer esquina. E não estou em meu louvor aqui (apesar de nunca serem demais os panegíricos à minha grandiosidade). Em momento algum falei em humildade, pelo contrário, humildade é coisa de fraco. Em segundo lugar, falei sobre "uma tolerância que, de longe, não me é peculiar". O discurso não tem pretensão alguma. É uma forma de encarar a vida. Aliás, vc tem histórias pra contar, N.? Ou são um punhado de anedotas que, colhidas aqui e acolá em boca alheia, acabam sendo incorporadas num imaginário pessoal onírico? Ou sua vida é uma merda mesmo e vc nem sabe por que acha tudo uma bosta???
    Longe de me causar irritação o contato com o(a) interlocutor(a), penso cá comigo como é que eu ainda respondo essas coisas??? Fácil, talvez pensando em dar um facho de luz para os menos favorecidos. E não seria esse o ápice da humildade??? Mas ela é pros fracos... então que se foda!!!

     
  • Às 4:39 PM , Anonymous Anônimo disse...

    queria ser escritor, mas acabei mesmo num blog.

     
  • Às 4:45 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Panegíricos cê pegou pesado... todo o mais, endosso.


    E N., meu caro(a), não há mal algum em você ser niilista (aliás, estamos em contato com alguém que vomita auto-definições sem conhecimento prévio ou com um letrado no assunto?), mas seu caso tá me soando mais como um clássico mal amado(a), e pra tanto há um único conselho: tire as calças e pise em cima. Works all the time!!!

     
  • Às 5:04 PM , Anonymous Anônimo disse...

    não é "N.", é nilli's. vamos manter o respeito por aqui. sem me conhecer, você supõe que eu seja mal amado(a). sem conhecer a vocês dois, suponho que sejam feios e, o que é pior, profundamente conscientes desse fardo. de todo jeito, é sempre bom lembrar que a auto-afirmação é a maior inimiga da auto-estima, de modo que, ou a gente tem uma, ou a gente tem outra.

     
  • Às 6:04 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Meu público alvo não reclama da minha aparência não. Ao contrário.
    Eu não disse que vc era mal-amado(a), eu sugeri que vc fosse ignorante. E vc não tem conseguido me dissuadir do contrário, diferente da J. que tem lhe dado o benefício da dúvida.
    Não tenho problemas nem com auto-estima e nem com auto-afirmação. Da primeira, tenho reflexos ambientais suficientes pra moderar minhas críticas a meu respeito. E eu sou bem crítico (Vc é?). A segunda me faltou vezes suficientes pra que eu nem me lembre do assunto, nem na adolescência.
    E, mantendo o nível, viva a cortina de fumaça... ou vc pretende responder algumas perguntas pra aplacar a ansiedade dos nosso numerosos leitores, N.?
    Por falar em leitores, quisera eu ser escritor. Jamais faria sucesso por que eu não chafurdo com o vulgo. E vc Q., o que gostaria de ser?

     
  • Às 6:10 PM , Blogger Burocrata disse...

    Opa! Leitor novo é bom por causa disso! Aquece (até ferve) as discussoes! Atento aqui lendo tudo, fiquem a vontade!

     
  • Às 10:43 PM , Anonymous Anônimo disse...

    tamanha é a grandiloqüência e, junto dela, a pretensão, que a realidade acaba mesmo esquecida. nada se eterniza de avô para neto, nem a seu filho você conseguirá transmitir (eternizar) a essência de seu avô: dará, quando muito, uma vaga idéia que ele não levará adiante. eterno? me parece que não. a conclusão da janis vai pelo mesmo caminho, com mais floreio que sentido, escorregando na casca da banana da generalização."todas as pessoas querem deixar alguns vestígios para posteridade"? exercício constante é entender nosso tamanho no mundo. um cara chamado mark chapman também pensava assim como vocês, queria se eternizar. como vocês, também não tinha um grande talento, mas teve uma grande idéia e conseguiu o pretendido. vocês têm um blog - pode ser o começo.

     
  • Às 11:06 PM , Blogger Puta Véia disse...

    E acho que precisamos ter muito cuidados com as projeções de auto-defesa, pois elas entregam a gente. Ficar zoando a pessoa perguntando se ela tem alguma história pra contar ou só repete o que lhe falaram, pode ser somente a projeção daquilo que não queremos demonstrar que somos... vale o mesmo exemplo pro "...clássico mal amado(a)" e sua interlocutora. (Muito bom ser casada com psicologa). Será que por essa afirmação terei que escutar mais uma vez o Armless falando o quanto ele é foda ou talvez um pouco da Janis falando que não a compreendemos?

     
  • Às 4:49 AM , Blogger Burocrata disse...

    "Casadam com psicologa"? Vc é sapata PV?

     
  • Às 9:28 AM , Anonymous Anônimo disse...

    Viiiiixi... eis que o rumo que as coisas tomaram não é NEM DE LONGE aquele que eu tinha como proposta inicial do tema do post, mas que seja.

    Não vou usar deste espaço pra me defender ou me explicar: Quem quiser pensar que eu sou feia, que pense. Quem quiser pensar que sou mal amada, que pense. Quem quiser falar que sou incompreendida, que fale.

    Porque, no fim das contas, a opinião que mais vale é a minha mesmo!! E isso não é auto-defesa, meus caros, é o bendito do auto-conhecimento... que tange, claro, a auto-estima e a auto-afirmação, mas é um pouco mais abrangente e eloqüente.

    Admitam: todos aqui somos personagens e mesmo estes tem lá suas fraquezas, defeitos, imperfeições. Querem uma dica da tia? Aproveitem o final de semana que se anuncia, peguem seus personagens pela mão e os levem pra tomar um sorvete no parque. Percam umas horas de uma tarde de sol batendo papo com seus anjos e demônios e tirem suas próprias conclusões.

    E quem quiser pensar que isso é auto-ajuda, que pense. Quem quiser dizer que não tenho talento, que diga. Quem quiser comentar, que comente.

     
  • Às 9:34 AM , Anonymous Anônimo disse...

    By the way, Mark Chapman era esquizofrênico.

     
  • Às 10:33 AM , Anonymous Anônimo disse...

    ...que queria ser mulher, mas só conseguiu ser uma bela travesti.

     
  • Às 12:41 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Acho que nessas alturas, só tenho uma citação digna de nota: até onde me lembro este é o post mais comentado da história do blog... ou estou enganado?
    Mais que isso é pérola aos porcos, viu PV.

     
  • Às 1:07 PM , Blogger Puta Véia disse...

    vi o q? It`s just diamonds in shit?
    (só pra engrossar o número de comentários)

     
  • Às 1:22 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Admito que a PV é um páreo duro na futricaria. Lembro de uma amiga da faculdade. ´"E aí Dani, vc gosta de farinha, né?", "É, meter é bom, cheirar é bom. MAs dedo no cú é mais gostoso." ... E por aí vai!!!
    PV... vc ainda me deve uma mesa de boteco encardida e cervejas até a gente desistir de convencer o outro.

     
  • Às 1:08 AM , Blogger Puta Véia disse...

    keeping trying, não sou tão fácil assim não.
    Pode me passar o contato dessa tal de Dani?

     

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