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terça-feira, setembro 11, 2007

A Insustentável Leveza do Ser

Não sei quantos de vocês já se deram ao trabalho de ler “A Insustentável Leveza do Ser” do Kundera. Pois eu tomei ele emprestado uns meses atrás e já o li duas vezes. Curiosamente, como não costuma acontecer via de regra, mantive minha opinião sobre o livro e as personagens mesmo sob ângulos e momentos diferentes de leitura.

Enfim, alguns trechos acabaram sendo de fato inquietantes e interessantes pra mim, por exemplo quando ele diz que "O homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento." Kundera ainda pergunta: "Mas, na verdade, será atroz o peso e bela a leveza?". Mais tarde, ele mesmo responde que peso/leveza é a mais ambígua e a mais misteriosa das contradições. No peso ou na leveza pode estar a realização do ser, porém pode significar um pesado fardo existencial ou uma leveza que afasta o ser de sua realidade.

De qualquer forma, “A Insustentável Leveza do Ser" é, pra mim, um livro que, como poucos, explora as vastidões do território do amor. E o faz de uma forma realista. Num certo sentido, pode-se até dizer que o faz de uma forma amargurada. Os personagens centrais ficam juntos porque Tereza é demasiado fraca para deixar Tomás, e porque, a sua maneira, Tomás também é demasiado fraco para a deixar. Dificilmente se poderá imaginar quadro mais desprovido de verdadeiro amor: duas pessoas que estão juntas, simplesmente, porque nenhuma delas tem força pra partir. No entanto, e é esta principal razão pela qual considero este livro de uma profundidade inquestionável, isto pode até nem ser amor verdadeiro, mas é o amor de Tomás e Tereza. Logo, é tão verdadeiro como outro amor qualquer. No mais, este amor nem sequer tem a felicidade para o justificar. Assim, justifica-se a si próprio.

Ler "A Insustentável Leveza do Ser" é ler um livro triste. É ler um livro que relata um amor que vai funcionando sem nunca funcionar. Um amor que funciona apenas, e só. Porque o tempo passa e esse amor não termina. É ler um livro em que, a cada página, este amor, de uma forma paradoxal, parece se autoconsumir e, no entanto, fica sempre mais forte. Talvez, apesar de tudo, não seja assim tão paradoxal: é o tempo aquilo que verdadeiramente joga a favor deste amor. Mas é também no tempo que este amor desgasta as personagens que o vivem. Um Tomás incapaz de fazer Tereza feliz, uma Tereza infeliz incapaz de ser aquilo que, no fundo, nem Tomás sabe o que quer que ela seja.

Na repressão pós Primavera de Praga, a descida dos dois ao anonimato, às profissões menores que ainda iam sendo permitidas a todos aqueles que não fizessem a sua autocrítica, aproxima-os mais ainda. É como se o seu amor fosse um caminho descendente. E neste momento o autor nos leva a pensar e mais tarde a comprender que, mais importante do que o adjetivo, é o substantivo. Assim, este amor é um caminho, como todos os amores o serão. Mas alguns, por maldição talvez, são um caminho que fica no lado escuro dos territórios do amor. Talvez por isso mesmo, no fim, nos deixe um travo de nostalgia e um brilho diferente, triste, melancólico e amargurado.

Aprendi, com este livro, algo que já intuíra: o amor pode não ser sinônimo de felicidade no sentido mais corrente do termo. E pode também não ser infelicidade. O amor, afinal, pode, uma vez mais no sentido mais corrente do termo, não ser amor.

PS: Este texto foi escrito em 20/Abril/2006, mas continua válido!!!

1 Comentários:

  • Às 11:51 AM , Anonymous Anônimo disse...

    Merece mais elaboração... tentarei fazê-lo em tempo...

     

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