Saiu no Jornal Hoje de, por incrível que pareça, hoje! Foi divulgado na imprensa que um paciente "não-identificado" está na UTI de um hospital público de São Paulo a uns 60 dias.
Não deu outra. Mais de 70 famílias foram até este hospital rezando para reconhecer o dito cujo e, como já é de praxe, quase ninguém saiu satisfeito: Nenhuma família o reconheceu, o paciente continua com a aucunha de "não-identificado", mas pelo menos a Globo conseguiu fazer uma reportagem (no caso, a satisfeita).
Mas o complicado da história era ver a cara de desolação de senhoras varizentas, que provavelmente perderam 1/3 da vida com o sumiço de um filho, ou irmãos que até hoje não sabem se o irmão fugiu ou se foi enterrado com indigente. Em muitos casos, são anos de procura, o que pessoalmente vejo como uma tortura mental, por mais que depois de 15 dias, já acredito que a pessoal está morta e enterrada. Vida crua, mente crua, mas é impossível desistir de algo que não se sabe que realmente terminou.
"Queria mesmo era encontrar meu filho vivo, morto, doente. Pelo menos saber o que aconteceu com meu filho" é o que diz uma senhora que aos prantos recebia um belo zoom da camera. Um conjunto birrazo de uma fatalidade que não quero pra mim.
Outro comentário que me pulou aos olhos foi a do médico responsável pelo paciente. "Ele abre o olho, acompanha as pessoas com o olhar, movimenta os membros, mas não responde" (para constar, Dr. Samir Dracoulakis). E só?!? Será que alguém se imaginou dentro da mente do "não-identificado", vendo 70 famílias diferentes passando pelo seu leio, encarando-o bem no fundo dos olhos e ele lá, sem poder dizer uma palavra.
Parafraseano lemas pacifistas,
desgraça gera desgraça. 70 famílias voltaram pra casa com sua esperança alterada (seja ampliada ou reduzida), um "não-identificado" assim permanece, e eu, em uma rápida passagem pelo bairro da Santa Cecília me deparo com 4 faixas diferentes em um mesmo quarteirão: "Perdeu-se cachorra, raça tal, sinais tais, atende pelo nome de X". Piada morbida pronta para um mundo cão.
Grandes concentrações de pessoas causam grandes perdas. Eu perdi um CD essa semana e a hora hoje.
Aos curiosos de plantão
http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,VJS0-3076-20051102-119583,00.html