BBB7 - Sai a justiça social, entra a ditadura da estética
Texto extraido do blog No Mínimo, ótimo blog escrito por bons jornalistas
http://olhaso.nominimo.com.br/?p=405
Chegou a hora dessa gente bronzeada, marombada e siliconada mostrar seu valor. Na estréia do “Big Brother Brasil 7″ ontem na Globo, a galera do “uhu!”, do “irado” e do “caraca” provou que está pronta para dominar o programa.
O “BBB 7″ começou com algumas novidades pontuais. Logo no início o candidato Fernando Orozco foi eliminado por ser amigo de um diretor da Globo (que tentou demonstrar, de forma um tanto tardia, uma idoneidade que vem sendo constantemente questionada). No final, Pedro Bial anunciou que dois candidatos - e não apenas um - serão eliminados na próxima semana.
Mas só houve uma mudança realmente fundamental no “BBB 7” em relação às três últimas edições: não há mais sorteio de participantes. Na prática, isso significa que os candidatos pobres, gordos ou feios foram eliminados a priori, em um processo de eugenia televisiva.
Boninho, diretor do programa, explicou a decisão em entrevistas: o objetivo do “Big Brother” é entreter, não fazer justiça social (e, assim, com uma medida provisória, o Brasil perde uma de suas modalides de inclusão social a conta-gotas).
Sai a justiça social, entra a ditadura estético-hormonal. Este é o elenco mais homogêneo das sete edições do “Big Brother”: todos são jovens (entre 20 e 30 anos), magros, solteiros, “de boa aparência”. Eles já eram maioria nas outras edições. Mas havia sempre uma ou outra exceção. Agora tá tudo dominado.
A julgar pela primeira festa, todos são também bastante desinibidos e disponíveis. Estimuladas pela extrovertida Liane, as garotas fizeram uma pequena demonstração de como se dança o verdadeiro funk carioca. E a loira Flávia – que, ao ser perguntada sobre sua profissão, disse que faz fotos e dança nas baladas – já reclamou que foi encoxada por um dos mascarados da festa.
Elas bem que poderiam ter ouvido o conselho dado por Grazi Massafera: aproveitem o programa para tirar férias e fazer um auto-conhecimento de si próprios (não se pode elogiar a moça, como fiz alguns posts abaixo, que ela fala uma barbaridade dessas). Mas o momento não está para filosofia barata. A ordem agora é entreter.
Pedro Bial já disse que o público rejeita o sexo no “Big Brother”. Então aí vai uma pergunta: qual é o sentido de convocar 16 jovens solteiros com hormônios em ebulição para o programa?
Mas a questão mais importante é a seguinte: se os candidatos sorteados ganharam duas das três edições em que houve esse dispositivo (e, portanto, tornaram-se participantes queridos pelo público e ajudaram a levantar a audiência), por que cortá-los da nova edição?
Tenho uma pequena teoria a respeito. O “Big Brother” costuma ser visto apenas como um fenômeno de audiência. Mas é também um paraíso do merchandising – o que é tão ou mais importante para a emissora. Pobre pode até ser bom para desperter a piedade alheia e ganhar o programa. Mas não é bom o suficiente para vender carros de luxo e boa parte dos produtos anunciados.
A nova edição do “Big Brother” fez uma opção por candidatos que saem bem na foto. Mas há um risco nessa escolha: ao selecionar pessoas com mais semelhanças do que diferenças (e elas têm em comum ao menos o fato de pertencer à elite estética do país), o programa corre o risco de esvaziar seus conflitos e perder audiência. E são sempre os conflitos que movem a dramaturgia – seja das telenovelas ou dos reality shows.
A idéia de que o “Big Brother” é a novela da vida real ou um pequeno microcosmo do país sempre me pareceu uma balela. Mas há algo realmente inovador no formato do programa: a ficção é construída não apenas pelos roteiristas, diretores e editores, mas também pelos atores e pelo público – o que a torna mais fluida e flexível que nas obras fechadas.
Em quase todas as edições anteriores, a parte mais interessante da ficção foi a maneira como a maioria lidou com a exceção: o caipira Bam Bam, a ignorante Sol, a despossuída Cida, o homossexual Jean, o obeso Tinho. Ou melhor, a maneira como os candidatos não souberam lidar com o diferente, como eles escolheram alternativas equivocadas de relação, como o distanciamento, a humilhação ou o paternalismo.
Os momentos mais reveladores do programa aconteceram nesse curto-circuito do politicamente correto, nas cenas em que os atores deixaram cair a máscara de seus personagens. Posso estar enganado (e freqüentemente estou), mas acho que esta edição promete render menos instantes como esses - e, portanto, deverá ser menos interessante do que um clássico como o “BBB 5″ (o de Jean e Grazi).
Estamos apenas no início de uma longa jornada “Big Brother” adentro. Em algum momento, os candidatos podem se revelar facínoras ou covardes, pulhas ou psicopatas. Os mais fortes podem se unir para subjugar os fracos, e estes podem bolar uma resposta letal. Mas, a julgar pelo primeiro programa, não será muito fácil diferenciar um participante do outro. Talvez pela cor dos cabelos ou o tamanho dos bíceps.
Publicado por Ricardo Calil - 9/01/07 11:59 PM
http://olhaso.nominimo.com.br/?p=405
Chegou a hora dessa gente bronzeada, marombada e siliconada mostrar seu valor. Na estréia do “Big Brother Brasil 7″ ontem na Globo, a galera do “uhu!”, do “irado” e do “caraca” provou que está pronta para dominar o programa.
O “BBB 7″ começou com algumas novidades pontuais. Logo no início o candidato Fernando Orozco foi eliminado por ser amigo de um diretor da Globo (que tentou demonstrar, de forma um tanto tardia, uma idoneidade que vem sendo constantemente questionada). No final, Pedro Bial anunciou que dois candidatos - e não apenas um - serão eliminados na próxima semana.
Mas só houve uma mudança realmente fundamental no “BBB 7” em relação às três últimas edições: não há mais sorteio de participantes. Na prática, isso significa que os candidatos pobres, gordos ou feios foram eliminados a priori, em um processo de eugenia televisiva.
Boninho, diretor do programa, explicou a decisão em entrevistas: o objetivo do “Big Brother” é entreter, não fazer justiça social (e, assim, com uma medida provisória, o Brasil perde uma de suas modalides de inclusão social a conta-gotas).
Sai a justiça social, entra a ditadura estético-hormonal. Este é o elenco mais homogêneo das sete edições do “Big Brother”: todos são jovens (entre 20 e 30 anos), magros, solteiros, “de boa aparência”. Eles já eram maioria nas outras edições. Mas havia sempre uma ou outra exceção. Agora tá tudo dominado.
A julgar pela primeira festa, todos são também bastante desinibidos e disponíveis. Estimuladas pela extrovertida Liane, as garotas fizeram uma pequena demonstração de como se dança o verdadeiro funk carioca. E a loira Flávia – que, ao ser perguntada sobre sua profissão, disse que faz fotos e dança nas baladas – já reclamou que foi encoxada por um dos mascarados da festa.
Elas bem que poderiam ter ouvido o conselho dado por Grazi Massafera: aproveitem o programa para tirar férias e fazer um auto-conhecimento de si próprios (não se pode elogiar a moça, como fiz alguns posts abaixo, que ela fala uma barbaridade dessas). Mas o momento não está para filosofia barata. A ordem agora é entreter.
Pedro Bial já disse que o público rejeita o sexo no “Big Brother”. Então aí vai uma pergunta: qual é o sentido de convocar 16 jovens solteiros com hormônios em ebulição para o programa?
Mas a questão mais importante é a seguinte: se os candidatos sorteados ganharam duas das três edições em que houve esse dispositivo (e, portanto, tornaram-se participantes queridos pelo público e ajudaram a levantar a audiência), por que cortá-los da nova edição?
Tenho uma pequena teoria a respeito. O “Big Brother” costuma ser visto apenas como um fenômeno de audiência. Mas é também um paraíso do merchandising – o que é tão ou mais importante para a emissora. Pobre pode até ser bom para desperter a piedade alheia e ganhar o programa. Mas não é bom o suficiente para vender carros de luxo e boa parte dos produtos anunciados.
A nova edição do “Big Brother” fez uma opção por candidatos que saem bem na foto. Mas há um risco nessa escolha: ao selecionar pessoas com mais semelhanças do que diferenças (e elas têm em comum ao menos o fato de pertencer à elite estética do país), o programa corre o risco de esvaziar seus conflitos e perder audiência. E são sempre os conflitos que movem a dramaturgia – seja das telenovelas ou dos reality shows.
A idéia de que o “Big Brother” é a novela da vida real ou um pequeno microcosmo do país sempre me pareceu uma balela. Mas há algo realmente inovador no formato do programa: a ficção é construída não apenas pelos roteiristas, diretores e editores, mas também pelos atores e pelo público – o que a torna mais fluida e flexível que nas obras fechadas.
Em quase todas as edições anteriores, a parte mais interessante da ficção foi a maneira como a maioria lidou com a exceção: o caipira Bam Bam, a ignorante Sol, a despossuída Cida, o homossexual Jean, o obeso Tinho. Ou melhor, a maneira como os candidatos não souberam lidar com o diferente, como eles escolheram alternativas equivocadas de relação, como o distanciamento, a humilhação ou o paternalismo.
Os momentos mais reveladores do programa aconteceram nesse curto-circuito do politicamente correto, nas cenas em que os atores deixaram cair a máscara de seus personagens. Posso estar enganado (e freqüentemente estou), mas acho que esta edição promete render menos instantes como esses - e, portanto, deverá ser menos interessante do que um clássico como o “BBB 5″ (o de Jean e Grazi).
Estamos apenas no início de uma longa jornada “Big Brother” adentro. Em algum momento, os candidatos podem se revelar facínoras ou covardes, pulhas ou psicopatas. Os mais fortes podem se unir para subjugar os fracos, e estes podem bolar uma resposta letal. Mas, a julgar pelo primeiro programa, não será muito fácil diferenciar um participante do outro. Talvez pela cor dos cabelos ou o tamanho dos bíceps.
Publicado por Ricardo Calil - 9/01/07 11:59 PM
5 Comentários:
Às 11:30 PM , Anônimo disse...
Confesso: a primeira edição do programa eu assisti inteira... e torci!!! Pra segunda, comprei até o "pay-per-view"... (só) achei curioso. Na terceira, foi perdendo a graça. A quarta edição foi a de maior/melhor estratégia, mas falhou... por conta disso, sabotei a quinta. Ano passado desencanei de vez da sexta e nesta - a sétima - devo dizer que não tive nem curiosidade pra saber o nome dos participantes. A TV anda mesmo lamentável... ou eu é que tô ficando velha!!!
Às 9:26 AM , Puta Véia disse...
Nada melhor do que o parecer de uma especialista!!!
Mas ontem eu saquei qual é dessa edição. No primeiro dia, o pay-per-view do BBB7 estava liberado para todo mundo assistir. Aí o que o povo faz lá?!?!?! As 2:00 da manhã todas as gostosas ainda estavam na piscina, com biquinis estrategicamente pequenos cedidos pela própria Globo (isso passou no video-show). Tudo bem que o povo lá não tem relógio e fica meio perdido, mas se vc chegasse em um hotel de luxo as 15:00, vc ficaria na piscina até as 2 da manhã?
Puro estímulo visual para tarados que comprar o pay-per-view (que não é barato = R$ 85,00).
No segundo dia, o canal já não estava liberado para pobres assinantes.
Às 10:51 AM , Anônimo disse...
Depois que o Roberto Marinho morreu, tudo ficou beeeemmm pior!! Só que triste mesmo é perder tempo comentando isso. He he he.
Novos textos....
Às 5:09 PM , Burocrata disse...
Adoro big brother, masturbação mental deliciosa. Se quero absorver cultura leio alguma coisa, não tem jeito melhor.
By the way: quem mudou a formatalção do blog no qual eu sou o chefe?
Às 6:35 PM , Puta Véia disse...
banho de loja é sempre bem vindo
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial